“Arnaldo, meu rapaz”, disse Deus, “Eu sei que andas preocupado com as abóboras. E tens razão... Mas, que hei-de fazer! Nunca devia ter dado ouvidos a este Espírito Santo de Orelha. Agora deu-lhe para não falar... É só espírito, só espírito! Eu gosto de ver os planetas com vida. Aliás, é essa a minha função. Nunca esperei este desenvolvimento aqui na Terra. A ideia das pilas até nem era má de todo... Mas nunca pensei que viesse a haver “donos das pilas”. Nunca pensei que chegasse a haver seres inteligentes e, muito menos, que pensassem ter alma. Pior, que tivessem pretenções a ser divinos. Um desaforo!”
Se adivinhasse que isto aqui na Terra era tão fértil nunca teria criado as pilas. Ainda tentei emendar a mão. Mandei cá abaixo o meu filho, na esperança que lhes metesse um cagaço com a história dos pecados veniais e capitais... mas, nada! O miúdo entrou numa de política e desata-me a pregar liberdade, igualdade, fraternidade. Pior, só falava por metáforas. Ninguém percebia nada. Depois, rodeou-se de doze palermas que só comiam pão e vinho e, obviamente, desataram a ter imensas visões. Finalmente, deixa-se espetar na cruz como um vulgar agitador... E, depois de morto, vem-se a descobrir que andava enrolado com uma data de gajas. Nunca mais o mando a lado nenhum!”
"Ainda valeu aquele Salo de Tarsos. Mandei-lhe uma flashada no meio do deserto e o homem nunca mais parou de escrever cartas contra o sexo. A ideia inicial era simples: “Parem de foder... Quem se portar com juízo, deixo-os dar uma voltinha pelo céu”. Mas já era tarde. Em vez de se deixarem atrair pelo pelo turismo divino, desataram a inventar religiões, mitos, seitas, facções... Depois armaram-se em “doutores”. Cada um escrevia versões estapafurdias da mesma história, a ver quem vendia mais. A seguir vieram os que diziam que era tudo mentira... Agora até dizem que foder faz bem ao coração. Enfim, a confusão instalada. Tudo culpa do puto”.
“Resultado, em vez de isto ser um planeta calmo e florido, cada vez tem mais desses “homo sapiens” que nunca estiveram previstos na Criação. O que vale é que têm natureza violenta. Com um pouco de sorte, ainda se matam todos uns aos outros!”
Deus suspirou. Deu duas garfadas celestiais na morcela e pediu pudim de abóbora com coco para rebater. Engoliu a sobremesa e, sem uma palavra, deixou Arnaldo sozinho com a conta e com seus pensamentos.
O caso acabou por se resolver por si mesmo. As abóboras estavam cada vez mais provocantes. As pilas selvagens rareavam. Agora quase todas tinham dono com fato e gravata, mas mantinham a índole perfuradora. O “engenheiro das cucurbitaceas”, sempre atento ao mercado, criou a “abóbora-strip”, um híbrido dirigido aos alternes da raia. Aumentou a exportação de abóboras-meninas, para satisfação dos pedófilos mais exigentes. Em breve seria comendador. Os tribunais ficaram muito mais aliviados. Deus foi, definitivamente, para outra galáxia!
Arnaldo subiu as escadas, satisfeito consigo próprio. Não que tivesse resolvido o caso... mas, pelo menos não falhara. Tirou as botas, espojou-se na cama e gritou exultante: ”Della, filha, anda cá abobrinha!”
Se adivinhasse que isto aqui na Terra era tão fértil nunca teria criado as pilas. Ainda tentei emendar a mão. Mandei cá abaixo o meu filho, na esperança que lhes metesse um cagaço com a história dos pecados veniais e capitais... mas, nada! O miúdo entrou numa de política e desata-me a pregar liberdade, igualdade, fraternidade. Pior, só falava por metáforas. Ninguém percebia nada. Depois, rodeou-se de doze palermas que só comiam pão e vinho e, obviamente, desataram a ter imensas visões. Finalmente, deixa-se espetar na cruz como um vulgar agitador... E, depois de morto, vem-se a descobrir que andava enrolado com uma data de gajas. Nunca mais o mando a lado nenhum!”
"Ainda valeu aquele Salo de Tarsos. Mandei-lhe uma flashada no meio do deserto e o homem nunca mais parou de escrever cartas contra o sexo. A ideia inicial era simples: “Parem de foder... Quem se portar com juízo, deixo-os dar uma voltinha pelo céu”. Mas já era tarde. Em vez de se deixarem atrair pelo pelo turismo divino, desataram a inventar religiões, mitos, seitas, facções... Depois armaram-se em “doutores”. Cada um escrevia versões estapafurdias da mesma história, a ver quem vendia mais. A seguir vieram os que diziam que era tudo mentira... Agora até dizem que foder faz bem ao coração. Enfim, a confusão instalada. Tudo culpa do puto”.
“Resultado, em vez de isto ser um planeta calmo e florido, cada vez tem mais desses “homo sapiens” que nunca estiveram previstos na Criação. O que vale é que têm natureza violenta. Com um pouco de sorte, ainda se matam todos uns aos outros!”
Deus suspirou. Deu duas garfadas celestiais na morcela e pediu pudim de abóbora com coco para rebater. Engoliu a sobremesa e, sem uma palavra, deixou Arnaldo sozinho com a conta e com seus pensamentos.
O caso acabou por se resolver por si mesmo. As abóboras estavam cada vez mais provocantes. As pilas selvagens rareavam. Agora quase todas tinham dono com fato e gravata, mas mantinham a índole perfuradora. O “engenheiro das cucurbitaceas”, sempre atento ao mercado, criou a “abóbora-strip”, um híbrido dirigido aos alternes da raia. Aumentou a exportação de abóboras-meninas, para satisfação dos pedófilos mais exigentes. Em breve seria comendador. Os tribunais ficaram muito mais aliviados. Deus foi, definitivamente, para outra galáxia!
Arnaldo subiu as escadas, satisfeito consigo próprio. Não que tivesse resolvido o caso... mas, pelo menos não falhara. Tirou as botas, espojou-se na cama e gritou exultante: ”Della, filha, anda cá abobrinha!”
FIM
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