4.2.09

ORDEM DE MALTA

Malta fica no coração do Mediterrâneo. Pátria de Corto Maltese; salvação do apóstolo Paulo; prisão de Ulisses, seduzido pela provocante Calipso.
360 igrejas em 316 km² (pior, só no Vaticano), distribuídas pelas ilhas de Malta, Gozo, Comino e, mesmo, pelas ilhas desertas de Cominotto e Filfla. As senhoras têm de entrar de lenço e oferecem-se batas esverdeadas às estrangeiras mais impúdicas que se apresentem de calções ou t-shirts de alças.
A culpa deste fervor patológico deve-se à incómoda presença de S. Paulo que, no distante ano de 58, prisioneiro a caminho de Roma, foi salvo de um naufrágio nas costas destas ilhas e por lá ficou a pregar com grande eficácia. Como seria hoje o mundo se esse fanático pregador tivesse morrido afogado?

Em Jerusalém, por volta de 1090, um grupo de mercadores italianos de Amalfi foi autorizado a construir uma igreja e um hospital-albergaria para recolha dos “palmeiros” (peregrinos para a Terra Santa), com gestão inicialmente confiada aos beneditinos.
Depois da conquista e do habitual massacre da população muçulmana e judia de Jerusalém por Godofredo de Bulhão, a 15 de Julho de 1099 (1ª Cruzada), aquela agremiação evoluiu para uma ordem hospitalar e militar.
Sob o alto patrocínio de São João Baptista, é instituída a Ordem de São João do Hospital de Jerusalém, cuja missão era, primeiro, matar e, depois, curar… Ou seja, dar a extrema-unção que é, sem dúvida, uma forma terminal de cura.
A Ordem submeteu-se à regra de Santo Agostinho. O grande doutrinador da fé cristã afirmava alegremente: “O cristianismo não condena a guerra, quando ela é justa e é feita com humanidade”. A definição de “guerra justa” demorar-nos-ia, seguramente, uma eternidade a aprofundar e a “de com humanidade” ainda mais. O certo é que estava justificada a “jihad” cristã… mas com humanidade!
Com a tomada de Jerusalém em 1186, por Saladino, os Hospitalários instalam-se em S. João de Acre. Depois recuam para Chipre. Em 1312, os Hospitalários tinham já ocupado a ilha de Rodes.
E foi nesse preciso ano que receberam a agradável notícia de que o Papa Clemente V, ao extinguir os Templários, lhes tinha atribuído todo o património fundiário da Ordem do Templo. Um inesperado euromilhões!
Mantiveram-se em Rodes até 1523. Expulsos por Solimão, o Magnífico, encontraram refúgio em Malta, doada por Carlos V que, ao tempo, acumulava com rei da Sicília. Lá ficaram até que Napoleão, em 1798, imbuído de espírito libertário e indo em excursão ao Egipto, se apoderou da ilha.
Condoído, o Imperador da Rússia deixou-os instalar-se em São Petersburgo (início da “Tradição Russa”). Agradecidos, os freires elegeram para grão-mestre o Imperador Paulo I, da dinastia dos Romanov.
Depois de algumas peripécias menos edificantes, a Ordem aparece restaurada pelo Papa Leão XIII, em 1834, com sede em Roma, passando a ser designada por Ordem Militar Soberana de Malta.
Actualmente, dispõe de uma sede na Via dei Condotti, em Roma, e do Palácio Aventino, com a respectiva igreja. Os membros da Ordem possuem nacionalidade maltesa (e, provavelmente, falam francês), a par com a nacionalidade do país de nascimento. A Ordem imprime selos, emite passaportes reconhecidos em 86 países e tem representação junto da ONU, actuando como uma organização humanitária internacional (tipo Cruz Vermelha).
In "Turista Ocidental", de Jorge Pinheiro.

2 comments:

Alice Salles said...

Nossa, não sabia muito sobre Malta e agora que sei quero ficar longe! hahahaha

jugioli said...

Adoro as transcrições da sua literatura.



Vamos conhecendo o turista aos poucos.

JU