GELOTOLOGIA

Vejamos. Afinal o que é rir? Dizem que rir é o que nos distingue dos animais (uma vez que a alma parece não ser uma evidência absoluta). Pessoalmente acho uma ideia muitíssimo redutora. Eu, que rio para dentro. Sei lá se o hipopótamo também não se farta de rir nos entrefolhos do bandulho! E a girafa, muda como é, talvez esteja em permanente riso gutural de intenso gozo interior! Rirão os peixes? E as pedras? Confesso que às vezes pressinto um sorriso gelado nos calhaus rolados no marulhar das ondas ou um esgar malicioso nos lábios vorazes de um cherne acabado de morder no anzol! Por outro lado a inalação de óxido nitroso provoca uma contracção dos músculos faciais. Uma acção mecânica semelhante ao riso. E a cannabis? Bom, dá para rir à fartasana, podendo mesmo levar às lágrimas e daí a uma terrível dor muscular é um passo. Pior. O riso até pode ser contagioso. Perigosíssimo. Imaginem tudo a rir como na célebre epidemia no Tangânica. Hospitais, médicos, enfermeiras, tudo a partir o coco!

Se blogue o Arco-íris da Vida me tem ensinado alguma coisa é que antes de rir tem de se pensar muito. Desde logo, devo ou não rir? E como? Muito? Pouco? Às gargalhadas? Abanando o diafragma? Agitando a cabeça? Convulsivamente? Discretamente? Durante quanto tempo? Paro de repente ou fico aos soluços? Mexo o depressor do ângulo da boca? Ou será melhor enrugar o músculo orbicular dos lábios? Solto o mentoniano? E que fazer com o bucinador?… . Uma estafadeira. Muita coisa complexa. Muita coisa científica. Rir não é fácil. Primeiro vá estudar gelotologia e depois venha rir com connosco. Vai ver que é bom!
(Texto publicado no Arco-íris da Vida, em 3/4)

jp