4.6.09

D. JOÃO II E OS JUDEUS

Inesperadamente, em 31 de Março de 1492, os Reis Católicos de Espanha publicaram um édito de expulsão de todos os judeus não baptizados. Deram-lhes quatro meses para regularizar a situação. Quem não quisesse podia dispôr dos seus bens, por venda ou doação, podendo levar para fora de Espanha todos os que fossem transportáveis, desde que não se tratasse de ouro, prata ou moeda. Uma verdadeira espoliação. Quem não cumprisse o édito seria punido coma morte e confiscação de todos os bens. Foi o início do Santo Ofício, a Inquisição.
O pânico instalou-se. Muitos judeus fugiram para Itália, sendo atacados por uma epidemia que os dizimou quase totalmente. Outros morreram de fome em Génova. Os que se refugiaram em Marrocos foram roubados e assassinados. Dizia-se que ocultavam jóias no estômago. Por isso eram estripados na busca de tesouros.
Apesar das muitas "conversões", terão fugido de Espanha cerca de 165 000 hebreus, dos quais um terça parte procurou obter asilo em Portugal, tendo enviado emissários para negociar com D. João II, o Princípe Perfeito. O monarca viu no caso uma vantajosa operação financeira, um verdadeiro "take over". Não houve qualquer sentimento de humanidade. Só a ideia de lucro. Os judeus entraram mediante o pagamento de um imposto de oito cruzados por cabeça (ficaram isentos as crianças de colo). Só lhes era permitida a permanência em Portugal por oito meses. Depois teriam de sair para os países que escolhessem, a expensas próprias. O Tesouro arrecadou avultada quantia e cerca de 600 famílias abastadas fizeram um contrato especial. Em troca de sessenta mil cruzados puderam estabelecer-se no reino. Aqueles que se introduziram no país sem pagar foram perseguidos e mortos e, passados oito meses, os judeus foram atirados para Marrocos por ordem do rei, faltando aos seus compromissos de os levar para onde quisessem, depois de arrecadado o imposto. Em Marrocos foram violados, homens e mulheres, e quase todos dizimados. Os filhos menores destes infelizes foram enviados para a distante ilha de S. Tomé, no Equador, baptizados à força e por lá ficaram a colonizar a inóspida ilha. Finalmente, alguns hebreus que não tinham dinheiro para abandonar o país, foram considerados cativos e vendidos como escravos.
Um comportamento frio e calculista de um monarca que tinha à sua volta valiosos colaboradores, incluindo célebres cosmógrafos, o que não deixa de causar pasmo... mas ele era o Princípe Perfeito!
jp

5 comments:

Al Kantara said...

Sempre tive deste João II a noção de um dos maiores filhos da puta da história portuguesa. Não sei porquê mas nunca simpatizei com gajos que mandam assassinar irmãos (mesmo meio-irmãos cai mal)...

João Menéres said...

Foi um dos mais sérios candidatos à eleição do Melhor Português...

Maria Augusta said...

Os judeus tem sido perseguidos ha séculos e continuam a despertar preconceitos...é um pov muito sofrido.
Abraços.

Mylla Galvão said...

Tanto sofrimento para nada!!!
Os judeus são mesmo um povo muito sofrido!!! Concordo com Maria Augusta! POr saberem fazer negócios, foram duramente perdeguidos!
D.João II foi por assim dizer o primeiro Hitler da história! Um verdadeiro monstro!!!
Abraços

expresso said...

Os judeus tiveram muitas perseguições antes desta. Aliás, dá que pensar porquê. Acontece que quem iniciou essa perseguição na Ibéria foram os Reis Católicos e a sua Inquisição. Aqui apenas se pretende dar nota de que tb. D.João se associou, embora moderadamente. É que na história mais conhecida, só no final do reinado de D. Manuel e definitivamente com D. João III, a perseguição a sério começou em Portugal.