TURISTA OCIDENTAL - NO PAÍS DOS VÂNDALOS (19)

Depois deste interlúdio “fadista”, decidimos aventurar-nos no Albaycin o velho bairro mourisco, no morro frente à Alhambra. Da agência tinham-nos avisado que podíamos ficar em cuecas à conta dos assaltos nas “cuevas”. A malta ia transida… Alguns disfarçaram e pisgaram-se logo para as compras!
O homem do táxi, quando lhe manifestámos a nossa preocupação riu-se com quantos dentes tinha: “que no, que no, no hay peligro ninguno…” Conclusão: o homem só podia ser o chefe de um dos principais “gangs”!!!
Mesmo assim, subimos o morro, sempre a olhar para a nossa sombra; pânico contido pela insegurança adivinhada. Eu, secretamente, queria algum “frisson”. Tentei contratar um mini-assalto, só para dar mais cor à coisa. Na recepção do hotel desanimaram-me logo: “No puede ser nada. Es Jueves Santo. Ya fueran todos contratados para llevar los pasos, olé”.
Desiludido, lá fui bufando morro acima, entre hordas de vândalos e alanos. Pracetas com esplanadas, resplandecendo de “sangria”; ruelas brancas cheias de “carmens”; vendedores de “Tortillas Sacromonte” e dezenas de cafés Soraya.

Há quem diga que Soraya era a outra preferida de Abu-1-Hasam Ali, vigésimo primeiro e penúltimo sultão de Granada. Soraya seria uma “romiyya”, i.e. cristã, de seu nome Isabel de Solis.
Teria sido ela que provocou a crise com a tal Fátima, que, vendo-se preterida, acabou envenenando tudo e todos e conseguiu que o filho, o menino Boabdil, acabasse por depor o pai e, depois, entregar Granada aos Reis Católicos.
Tenho dúvidas quanto a esta versão que me parece excessivamente romanceada e politicamente correcta. Tenho para mim que houve, de facto, intrigas, ciúmes, invejas…Tenho para mim que Fátima se sentiu traída, mas não por outra mulher! Traída sim, mas pelo escravo ex-cristão, Thuraya, de que já falámos. Thuraya, Soraya… Pois!
Nunca gostei desta história de amor e ciúme, que nos impediu de desfrutar plenamente da cultura e civilização muçulmana no âmago da União Europeia.

(a continuar)