SILLY SEASON

Enquanto o Natal passa despejando prendas em doses industriais, enquanto esperamos o ano novo no tilintar borbulhante do champagne, a vida pára um pouco. As famílias juntam-se, umas por dever, outras com alegria, outras não sabem bem porquê. Os amigos fazem jantares revivalistas de saudade juvenil. Os pobrezinhos comem ligeiramente melhor. A caridade invade os nossos corações de pedra. Os comerciantes alegram-se um pouco. A crise aguarda os saldos. Há luzes no ar. Brilham os olhos dos pequenitos. Enfeitam-se as estradas e praças. Cantam-se músicas inaudíveis... Há um intervalo para balanço e contas. Prometem-se alterações para o ano que vem. Nova vida. Este ano é que vai ser... Enfim, uma chusma de intenções que vieram direitas do ano passado e continuarão no futuro do nosso descontentamento.

O Natal sempre me desiludiu. Afinal não havia Pai Natal. A chaminé era uma treta e as renas um logro. A prenda que eu queria afinal veio trocada. As ceias, uma confusão de gente e não gosto de perú. Depois vem o Ano Novo. Sensação de "Titanic". Mais um que é menos um. Este já passou, que bom, mas que também que mau. Vem outro e não sabemos. Talvez seja bom, talvez não. Pior já basta assim. Queremos e não podemos. Gostavamos e não sabemos. Estaremos cá para o ano? Se estivermos melhor, senão paciência. Este é o intervalo mais parvo do ano. Mau tempo por todo o lado. Pessoas em movimento perpétuo. Desastre rodoviário na incidência estatística. Ilusão perdida de uma vida à deriva... À vossa que é à nossa e a todos os que hão-de vir seja pelo que fôr.