Mais, esse galego espertalhaço ainda acabou por ser presenteado com a cabeça do próprio apóstolo Tiago (eu bem desconfiava), cuja, afinal, não tinha viajado com o corpo, mas remanescido em Jerusalém e só muito mais tarde gamada pelo bispo de Braga, um tal Burdino que tinha ido à Terra Santa e, ou era traidor ou ingénuo. A cabeça ficou jazente na igreja de Santo Isidoro de Léon e D. Urraca, não ignorando que Gelmirez era a âncora do reino da Galiza, deu-lhe o precioso presente, “porque onde está o corpo, deve estar a cabeça” (pois claro!).
O conflito diplomático estava prestes a ser vencido por Gelmirez e Compostela a libertar-se da tutela religiosa de Braga.
Mas para o bispo de Compostela a relíquia mais apetecida era S. Frutuoso de Montélios. Defensor e patrono de toda a região, S. Frutuoso isolou-se do mundo e instalou o primeiro mosteiro em Compludo, na região de Bierzo, um vale que se viria a encher de desertores do exército visigótico fugidos à justiça e em busca de “paternidade espiritual”.
S. Frutuoso acabou arcebispo de Braga e Compostela e foi sempre um monge andarilho, descalço “por penitência e para manter o contacto directo com a terra”, como ele próprio dizia.
Pois é, nem este Santo Homem escapou à ganância de Gelmirez. No final da missa, consagrada no templo de Montélios, o bispo, sem sequer tirar as vestes pontifícias, acercou-se do túmulo do monge andarilho e “consumou o latrocínio do seu corpo que entregou ocultamente aos seus servidores para que se encarregassem de tão cobiçada presa”.
Só em 1966, após o Concílio Vaticano II, regressaram a Braga parte das relíquias do Santo. E só veio tudo aquando das festas centenárias da morte de S. Frutuoso, por especial cortesia do cardeal de Compostela!
Isto de ser santo é uma canseira em vida e uma trapalhada na morte. Não sei se compensa ao próprio. Agora, para quem explora os respectivos direitos de personalidade, é dinheiro em caixa.
Vou ver se “descubro” um santo enterrado aqui em Nova Oeiras que me permita rentabilizar a reforma!
O conflito diplomático estava prestes a ser vencido por Gelmirez e Compostela a libertar-se da tutela religiosa de Braga.
Mas para o bispo de Compostela a relíquia mais apetecida era S. Frutuoso de Montélios. Defensor e patrono de toda a região, S. Frutuoso isolou-se do mundo e instalou o primeiro mosteiro em Compludo, na região de Bierzo, um vale que se viria a encher de desertores do exército visigótico fugidos à justiça e em busca de “paternidade espiritual”.
S. Frutuoso acabou arcebispo de Braga e Compostela e foi sempre um monge andarilho, descalço “por penitência e para manter o contacto directo com a terra”, como ele próprio dizia.
Pois é, nem este Santo Homem escapou à ganância de Gelmirez. No final da missa, consagrada no templo de Montélios, o bispo, sem sequer tirar as vestes pontifícias, acercou-se do túmulo do monge andarilho e “consumou o latrocínio do seu corpo que entregou ocultamente aos seus servidores para que se encarregassem de tão cobiçada presa”.
Só em 1966, após o Concílio Vaticano II, regressaram a Braga parte das relíquias do Santo. E só veio tudo aquando das festas centenárias da morte de S. Frutuoso, por especial cortesia do cardeal de Compostela!
Isto de ser santo é uma canseira em vida e uma trapalhada na morte. Não sei se compensa ao próprio. Agora, para quem explora os respectivos direitos de personalidade, é dinheiro em caixa.
Vou ver se “descubro” um santo enterrado aqui em Nova Oeiras que me permita rentabilizar a reforma!
Na imagem, a capela de S. Frutuoso, em Real (Braga)
(a continuar)
2 comments:
Execelente.Virei aqui muita vezes porque lucidez e a verdade atraem-me.Um abraço
Obrigado Henrique. Bem vindo.
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