23.12.09

TURISTA OCIDENTAL - DE LISBOA A SINTRA: UMA PERSPECTIVA SALOIA (4)

Palácio da Regaleira. Visão extralúcida de Carvalho Monteiro, devidamente alucinada pelo arquitecto Luigi Manini (o mesmo do Buçaco). Um tempo, um espaço, abertos à ficção. Cenário de ópera. Utopia maçónica de estética gótica no renascentismo romântico do neo-manuelino. Mansão filosofal de inspiração alquímica. Templários adivinhados.
Capitéis e pináculos. Cordas, nós, laçadas. Frisos, grinaldas, gárgulas. Esferas armilares. Colunatas em torso. Vegetalismo decorativo. Poços em escadaria espiral. Grutas labirínticas reflectidas em lagos flamejantes... Nostalgia do paraíso perdido. Revivalismo romântico. Desafio à usura do tempo. Melancolia estética de simbologia maçon... Quinto Império!
No frontão da entrada, não percam o pelicano auto flagelando-se em prol dos filhos... Solidariedade mutualista de pedreiros livres, hoje símbolo do “Montepio Geral”.
A águia com seios olhando o Sol de frente em transcendência uraniana, aleitando espiritualmente os discípulos, com o Leite dos Pássaros, o orniton gala dos gregos, referido por Mestre Fulcanelli.
Perguntem pelo banco do “515”. O simbolismo dos galgos no Divino Dante: a fidelidade e obediência, em busca do “sang y est” (sanglier). Leiam Lima de Freitas, para melhor perceber...
Vejam o “delta radiante” na entrada da capela e procurem os caracóis que na pedra fazem festina lente. Desçam à cripta pela “escalier en colimaçon” e não hesitem no trocadilho “escargot”... “Argot”, calão dos mestres pedreiros, cabala fonética: Argot... Argótica... Art Gothique... Se quiserem ir mais fundo, investiguem quem seria esse povo misterioso, a norte dos Pírineus, de seu nome “Cagot”, contratado para construir catedrais góticas e protegido dos templários.
Desçam os 27 metros do poço iniciático em direcção ao motor imóvel de Aristóteles, no centro da hélice orbicular. Para Leste, os túneis infernais em direcção à Luz, passando o caminho das pedras... sobre o simbólico “rio Leche”.
Nesta altura já somos todos “Cavaleiros Kadosh”, ou mesmo “Sublimes Príncipes do Real Segredo”, quiçá “Inspectores-Gerais” (isto, para quem acredita no “rito escocês rectificado”, está claro).
Duas horas em visita guiada. Não é preciso avental. Mas, pelo sim, pelo não, levem compasso e esquadro, um CD Mozart da “Flauta Mágica”... e que o Grande Hiram vos proteja.
(a continuar)

2 comments:

Unknown said...

Adoro a quinta da Regaleira!
Um abraço, Um bom Ano!

Li Ferreira Nhan said...

Jorge,
não conheci o Palácio da Regaleira...
Uma pena!
Na próxima irei com certeza e não esquecerei:
-do 515,
-ver o pelicano (não confundir com a pata do ganso dos Cagots),
-a arte gótica, ar got, argot (língua dos Pássaros,
-a águia com seios,
e, principalmente;
NÃO carregar nem compasso, régua, esquadro ou qualquer outro instrumento, vai que o grande Hiram esteja distraído...
beijo