Não é da Linha quem quer. Não é da Linha quem cá mora. Ser da Linha é um estado de espírito. Há requisitos essenciais. Por exemplo, quem não nasceu nesta zona ou pelo menos quem não passou cá a adolescência, dificilmente pode integrar esse estado de espírito. Gente que para cá veio com trinta ou mais anos, que trabalha, chega à casa para dormir, ver televisão e aos fins-de-semana procura descansar, nada sabe desse espírito. Limita-se a existir aqui. Aliás cada vez há menos “gente da Linha”. A expansão demográfica e a massificação urbanística converteram a Linha num arrabalde de Lisboa com Sol e praias. A vida própria e característica da zona perde-se no afã dos engarrafamentos permanentes. E afinal o que é esse espírito? O que caracteriza um verdadeiro habitante da Linha de Cascais? Ser da Linha é ter conduzido contra mão na quarta faixa da Marginal; é ter apanhado o comboio das 4,20 da manhã em Cascais, depois de um glorioso pifo no “John’s Bull”; é conhecer os cantos mais recônditas praias da Parede ou de S. Pedro do Estoril; é ter namorado no Alto do Lagoal com vista para o Cabo Espichel; é ter desafiado os poderes, sem nunca ter querido nada; diletância inconsistente de total irreverência. Ser da Linha é ter uma liberdade física e mental. Exigir dos pais mais do que de nós próprios. Ter uma sensação de superioridade sem qualquer fundamento intelectual. Sermos diferentes e não querermos ser iguais sem qualquer razão evidente. Como qualquer sub-cultura, ser da Linha é inexplicável. Mas cada vez deixa mais saudades…
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
11 comments:
Boa, Jorge.
Está lá quase tudo.
Agora as saudades ??!!
Porquê ?
Foram bons tempos e eles continuam na nossa atitude...ou não.
Grande abraço
Na adolescência, joguei poker em S. João do Estoril, tendo passado lá uns dias numa moradia.
Não chega, pois não?
TAMBÉM NÃO É DE LEÇA QUEM QUER !!!
LOL.
Vou entendendo cada dia melhor!
Está aqui muito mas falta muito mais...o Motel, o Barracão ao pé da praia de Sto. Amaro,o Pérgula, a praia do Moinho, o Forte,a estrada militar,o Sargo e a sua praia, o Liceu, os "convivios"....foi muito bom mas...sem saudades!
Entendo...temos estados de espirito parecidos por aqui.
Não nasci na Linha mas vivi Cascais... e de Cascais tenho muitas saudades!
O Eduardo está quase a entender. Falta mesmo só o quase.
O António e o Anónimo têm razão. As saudades são de sempre...
João: decididamente não sei onde fica Leça!
Angela e Menina do Mar: tudo isto passa por estados de espírito, mas existem mesmo.
Helena: tu sabes...
Uma boa perspectiva essa do "estado de espírito" ...
Ri com o João. Claro que ter amigos na linha, não conduz a esse estado, pois não???
Subscrevo o António.
E é engraçado.. como não sou da linha nem coisa que o valha (e tenho disso o mesmo orgulho que tu tens ao ser da linha) se fizesse um post sobre o assunto ía parar à estratificação social, às influências dos papás, aos caprichos dos "meninos/as", etc...
E, no entanto, orgulho-me da evolução que alguns amigos daí tiveram. Do seu amadurecimento, do seu desprendimento, da visão global que têm AGORA da vida.
E, agora, à guisa de desafio, "para onde caminha a linha"? Não só no caótico urbano e paisagística que tem implícito todo um híbrido social mas também no resto...
Caminha para uma Amadora com praia (com todo o respeito pela Amadora).
e eu sou Francesa de Caxias e brinquei no jardim das cegonhas
Viva!
Post a Comment