22.3.10

LINHA DE CASCAIS - UM ESTADO DE ESPÍRITO


Não é da Linha quem quer. Não é da Linha quem cá mora. Ser da Linha é um estado de espírito. Há requisitos essenciais. Por exemplo, quem não nasceu nesta zona ou pelo menos quem não passou cá a adolescência, dificilmente pode integrar esse estado de espírito. Gente que para cá veio com trinta ou mais anos, que trabalha, chega à casa para dormir, ver televisão e aos fins-de-semana procura descansar, nada sabe desse espírito. Limita-se a existir aqui. Aliás cada vez há menos “gente da Linha”. A expansão demográfica e a massificação urbanística converteram a Linha num arrabalde de Lisboa com Sol e praias. A vida própria e característica da zona perde-se no afã dos engarrafamentos permanentes. E afinal o que é esse espírito? O que caracteriza um verdadeiro habitante da Linha de Cascais? Ser da Linha é ter conduzido contra mão na quarta faixa da Marginal; é ter apanhado o comboio das 4,20 da manhã em Cascais, depois de um glorioso pifo no “John’s Bull”; é conhecer os cantos mais recônditas praias da Parede ou de S. Pedro do Estoril; é ter namorado no Alto do Lagoal com vista para o Cabo Espichel; é ter desafiado os poderes, sem nunca ter querido nada; diletância inconsistente de total irreverência. Ser da Linha é ter uma liberdade física e mental. Exigir dos pais mais do que de nós próprios. Ter uma sensação de superioridade sem qualquer fundamento intelectual. Sermos diferentes e não querermos ser iguais sem qualquer razão evidente. Como qualquer sub-cultura, ser da Linha é inexplicável. Mas cada vez deixa mais saudades…

11 comments:

António P. said...

Boa, Jorge.
Está lá quase tudo.
Agora as saudades ??!!
Porquê ?
Foram bons tempos e eles continuam na nossa atitude...ou não.
Grande abraço

João Menéres said...

Na adolescência, joguei poker em S. João do Estoril, tendo passado lá uns dias numa moradia.
Não chega, pois não?

TAMBÉM NÃO É DE LEÇA QUEM QUER !!!

LOL.

Anonymous said...

Vou entendendo cada dia melhor!

Anonymous said...

Está aqui muito mas falta muito mais...o Motel, o Barracão ao pé da praia de Sto. Amaro,o Pérgula, a praia do Moinho, o Forte,a estrada militar,o Sargo e a sua praia, o Liceu, os "convivios"....foi muito bom mas...sem saudades!

angela said...

Entendo...temos estados de espirito parecidos por aqui.

Helena Oneto said...

Não nasci na Linha mas vivi Cascais... e de Cascais tenho muitas saudades!

Jorge Pinheiro said...

O Eduardo está quase a entender. Falta mesmo só o quase.
O António e o Anónimo têm razão. As saudades são de sempre...
João: decididamente não sei onde fica Leça!
Angela e Menina do Mar: tudo isto passa por estados de espírito, mas existem mesmo.
Helena: tu sabes...

Lília Abreu said...

Uma boa perspectiva essa do "estado de espírito" ...
Ri com o João. Claro que ter amigos na linha, não conduz a esse estado, pois não???
Subscrevo o António.
E é engraçado.. como não sou da linha nem coisa que o valha (e tenho disso o mesmo orgulho que tu tens ao ser da linha) se fizesse um post sobre o assunto ía parar à estratificação social, às influências dos papás, aos caprichos dos "meninos/as", etc...
E, no entanto, orgulho-me da evolução que alguns amigos daí tiveram. Do seu amadurecimento, do seu desprendimento, da visão global que têm AGORA da vida.

E, agora, à guisa de desafio, "para onde caminha a linha"? Não só no caótico urbano e paisagística que tem implícito todo um híbrido social mas também no resto...

Jorge Pinheiro said...

Caminha para uma Amadora com praia (com todo o respeito pela Amadora).

Claire-Françoise Fressynet said...

e eu sou Francesa de Caxias e brinquei no jardim das cegonhas

zamot said...

Viva!