30.1.11

CABINDA - 1

Em 1972 tinha 21 anos. Curiosamente ainda não era casado. Os meus pais estavam em Cabinda. Eu andava por Lisboa. Vida de estudante. Casa só para mim. Carro à disposição. Outros tempos... Naquele ano fui passar o Natal a Cabinda. Um Natal quente. Dois meses escaldantes. O avião demorou dez horas até Luanda. Claustrofobia total. Durante anos tive pavor de avião. De Luanda recordo cervejas fresquinhas com camarões. Uma cidade branca de coração negro. Um calor novo. Intenso. Cores esfusiantes. Horizontes longínquos. Mulheres perturbantes. E Lisboa tão longe... O pequeno Cesna do Governo Regional de Cabinda esperava no aeroporto. Sobrevoei o norte de Angola. Cruzei o Congo. Altitude baixa. O rio Zaire penetra o mar com violência. Um mar castanho feito de lama e troncos. Troncos que cortam as ondas num caudal interminável. A mata grande entra pelo mar e o mar rende-se diante daquela força incomensurável. Ao longe vejo a Floresta do Maiombe. Uma floresta impenetrável.  Fechada. Escura. Adivinham-se gorilas e elefantes. Plataformas petrolíferas explorados pelas companhias americanas e francesas povoam o "off-shore". Duas horas depois surge a cidade de Cabinda. Uma terra vermelha. Acácias rubras exuberantes de cor. Um porto franco. A antiga Porto Rico dos holandeses e franceses. Terra orgulhosa de gente altiva. Daqui partiram os últimos escravos para o Brasil.
Nota: os slides foram tirados numa Minolta e recentemente digitalizados. A qualidade é a possível.
(continua)

5 comments:

daga said...

espectacular, Jorge, a imagem!!!
o texto deixou-me a nostalgia de quem conhece e adora "essa terra vermelha! (escrevo no presente porque África está sempr no meu coração) "Terra orgulhosa de gente altiva"... "cidade branca de coração negro" lindas palavras meu amigo e tão verdadeiras!
Beijos

Mena G said...

Privilégios de filho de oficial...
:)

Jorge Pinheiro said...

Graça: pois é. Quem passou por lá fica "apanhado". E pensar que conheço 9 países africanos. É obra!
Mena: privilégios e tb incómodos. Mas vamos ficar assim :))

daga said...

nem todos, Jorge, nem todos... é preciso ter olhos para ver e coração para sentir! conheço muito "boa" gente que passou por lá e ficou tal e qual como era!

Jorge Pinheiro said...

Talvez, mas não é fácil ficar indiferente.