31.1.11

CABINDA - 2




Este é um dos últimos palácio de governo ultramarino em madeira, totalmente assente em estacaria. O meu pai fora nomeado Governador do Distrito de Cabinda e Comandante do Sector Militar, em Julho de 1971. Era uma missão delicada que mexia com envolventes políticas e jurídicas mal resolvidas e que se arrastavam há décadas, após uma decisão precipitada de inclusão do enclave cabindense sob administração de Luanda. Cabinda é uma terra ríquissíma em petróleo, minerais e madeiras exóticas. Separada geograficamente de Angola por uma faixa de 60 quilómetros, Cabinda está entalada entre os dois Congos (o ex-Congo Francês e o ex-Congo Belga). Uma costa de cerca de 200 quilómetros é banhada pelo Atlântico, um pouco a norte da foz do rio Zaire. O povo Cabinda é etnicamente distinto do povo de Angola. Pertencentes ao grupo Bakongo, os cabindas sempre se consideraram etnicamente superiores. E sempre se sentiram explorados pela fuga de receitas do petróleo para os cofres de Luanda e colonizados pela nomeação de funcionários públicos vindos de Angola ou Cabo Verde. Entendiam que a presença portuguesa era jurídica e históricamente distinta. De facto, em 1885, os portugueses celebraram com os régulos de Cabinda vários Tratados que culminaram com o Tratado de Simulambuco. Cabinda não era formalmente uma colónia, mas um Protectorado de Direito Internacional. Teoricamente um território autónomo que fica "sob protecção" de um outro Estado. Algures, no consulado de Salazar, alguém se esqueceu de manter as aparências e Cabinda foi administrativamente agregada ao Governo Cental de Luanda, passando a um mero distrito de Angola. Foi esta a situação explosiva que o meu pai foi encontrar. E eu também, só que eu não entendia nada...
Nota: na imagem, a minha mãe nas escadas do Palácio
(continua)

4 comments:

Li Ferreira Nhan said...

Delícia retornar aqui com história.
E da África!
bjs

Anonymous said...

Ótima história! E foto.

Jorge Pinheiro said...

Obrigado Li e Eduardo.

Mena G said...

E sigo:... à espera de mais história/memória.