27.2.11

VIVA O POVO BRASILEIRO - III

O padre, porém, não sustentou caboco Capiroba e as suas mulheres muito tempo. No terceiro ano, o caboco roubou mais três mulheres e viu nascer umas quantas filhas, de maneira que com muitas bocas para sustentar, passou a consumir um número maior de brancos, a ponto de, em alguns períodos, declarar-se uma certa escassez. Um dia voltou arrastando um holandês louro, louro. O flamengo tinha o gosto um pouco brando, a carne um tico mole e adocicada, mas tão tenra e suave, tão leve no estomâgo, tão estimada pelas crianças, prestando-se tão versatilmente a todo o uso culinário, que cedo todos deram de preferi-los a qualquer outro alimento. Até mesmo o caboco Capiroba, cujo paladar, antes rude, se tornou de tal forma afeito à carne flamenga que às vezes chegava a ter engulhos, só de pensar em certos portugueses e espanhóis que em outros tempos havia comido, principalmente padres e funcionários da Coroa, os quais lhe evocavam agora uma memória oleosa, quase sebenta, de grande morrinha e invencível graveolência...

Excertos de "Viva o Povo Brasileiro", de João Ubaldo Ribeiro.

3 comments:

Anonymous said...

Muito boa essa sua série, de foto e textos!

peri s.c. said...

Camiseta da cachaça.
Prestigiam o produto nacional.

Jorge Pinheiro said...

Obrigado Eduardo e Mauro.