16.12.11

NATAL - PRESENTES E AUSENTES

O Natal é uma quadra de contrastes. Sentimos mais a família e a falta dela. O Natal transporta consigo um cortejo de mortes. Familiares que recordamos na sépia dos retratos gravados na nossa memória distante. Fantasmas que passam por nós nos corredores infinitos da saudade. Há um Natal presente e um Natal ausente. Um Natal em que recebíamos presentes e um outro em que somos nós a pagar. Dantes suspirávamos por uma data mágica que descia pela chaminé. Hoje corremos na fúria da compra inútil. Já não há Pai Natal. Há uma ilusão desgastante que se queima no altar egoísta do consumo. Um furor de consoada que se rasga nos papéis de embrulho na véspera do perú assado. Há um Natal de mensagens pré-gravadas e SMS. De jantares comemorativos feitos de rotina irremediável. O Natal é um engano que persistimos em manter. Um engano em que mantemos vivos os presentes ausentes.

20 comments:

Anonymous said...

Ao longo da vida tenho LUTADO para evita-lo. É sem nenhuma dúvida a pior época do ano. Neste vamos, Paulinha e eu fugir novamente! Vamos pescar no rio Paraná, na Argentina. Assim quando estivermos de volta essa época do ano passou e não nos percebemos compactuando com essa falsa alegria! Com a família devemos ficar os outros 11 meses do ano, quando possível.

mauro m said...

Jorge, que texto ! Preciso, perfeito.

daga said...

O texto reflecte de forma impiedosa e terrível a verdade do Natal consumista e ao mesmo tempo triste no "seu cortejo de mortes", o Natal que as pessoas celebram sem saber porquê, sem acreditarem no tal nascimento na gruta, só por "rotina irremediável" que não conseguem quebrar.
(ao menos o Eduardo vai à pesca :)
beijo

Luísa said...

Educar em sentido contrário depende da magia que queremos impor a esta quadra!
Não há Pai Natal? Pois não! esse vem nas embalagens da coca-cola! Mas, há um menino Jesus, que traz um presente, como reconhecimento de mérito...O Pai Natal das Tv´s, esse que vai aos shoppings, anda cansado e com a missão a esgotar-se.Antes viver no engano do convivio das familias, que nas reuniões preenchidas de vazio pelos laços dos presentes...
Is just my opinion!
LOL

João Menéres said...

Alinho com a Luísa.
Como sou católico é natural que não subscreva mais que15% do texto do Jorge.

Mas entendo bem o que escreveu.

Um abraço (e cuidado com os comes...).

Helena Oneto said...

Querido Jorge,
Este poste é mais incisivo que a faca que corta o peru! O "velhinho" do outro dia é um mestre!
Com ou sem presentes, desejo um bom Natal a todos!
Beijinhos

Jorge Pinheiro said...

Helena: não é velhinho... é velhote :))

Jorge Pinheiro said...

Luísa e João: o texto nada tem a ver com religião. Esse é outro capítulo... e, seguramente, nada tem a ver com o Natal.

Jorge Pinheiro said...

Graça: touchée!

Jorge Pinheiro said...

Eduardo: a pesca parece-me muito bem.

Li Ferreira Nhan said...

Texto ótimo, impecável!
Como o Mauro disse, Preciso!

Nos últimos natais pude me livrar dos cadáveres a mesa, do descontrolado frenesi consumista.
Já este ano vou como vc sabiamente descreveu,
a rotina irremediável, ao engano que persistem em manter.
E tb aos vivos que mais parecem mortos.

E seguramente, não tem nada a ver com religião.

myra said...

infelizmente...
é so consumismo e obrigaçoes...

Silvares said...

Vá lá, uma lareira e pessoas bonitas são sempre uma benção. Seja Natal, Carnaval ou outra coisa qualquer.
Boas Festas!

Branca said...

Subscrevo.

Vou estar com a família porque tenho pais com 80 anos, que não quero deixar sós, mas até já combinamos uma espécie de piquenique numa salinha onde eles gostam de estar tranquilos e quentinhos, sem stresses, nem correrias, nem obrigações, nem ideias feitas. COMEçamos a viver o verdadeiro Natal depois de velhos e filhos crescidos.
Por mim ia bem pescar como o Eduardo, já me chegaram 30 anos de Natais tracicionais em minha casa.
Quanto a religião, afinal o menino nasceu pobrezinho em Belém e para juntar a família toda pode ser em qualquer época do ano.

Beijos e dias felizes para todos.
Branca

Jorge Pinheiro said...

É isso mesmo Brancamar. Bom Natal, o que quer que isso seja.

Fatima Cristina said...

Oi Jorge,
seu texto me emocionou e me arrepiou. Ao mesmo tempo que ele é sensível ele é racional e realista.
Gosto de mater as chamas de um Natal que descia pela chaminé acesa dentro mim.
Beijos para você e família e um Feliz Natal!

Anonymous said...

Deste-me cabo do Natal! Não mereces, sequer, um sms.

Jorge Pinheiro said...

Às vezes tb é bom exorcisar alguns fantasmas pessoais. Obrigado a todos pela ajuda e um Bom Natal.

byTONHO said...



Na TAL data é isto!

Controvérsia...

"Compra-se um Jesu$,
ganha-se umas 'renas'
e quem ri é o Papai NOEL..."


Rô! Rô! Rô!

***

HAI KAI


www.Na TAL
data.com
...sumam!


***

Natal - Presentes e Ausentes, foi o melhor texto que já li "Na TAL data".

Parabéns Jorge!

:o)

Jorge Pinheiro said...

TONHO: MUITO OBRIGADO.