25.12.12

EMBUSTES DE NATAL


Em várias culturas ancestrais o solstício de Inverno era festejado. Comemorava-se a fertilidade e a fecundidade. A partir do solstício os dias começam a crescer, simbolizando-se, nesses festejos, a vitória da luz sobre a escuridão... Isto no hemisfério norte. No sul é exactamente ao contrário. A bem dizer, o Natal que nós comemoramos a 25 de Dezembro é o solstício.
Embora objecto de intermináveis disputas teológico-astrológicas, Cristo terá nascido, segundo os melhores cálculos bíblicos, entre Agosto e Setembro do ano 7 antes dele próprio. Porém, a partir do Concílio de Niceia (325d.C.), toda a história do cristianismo e, de certa forma, da nossa cultura, foi reescrita. O Imperador Constantino converteu-se, por razões políticas, e criou a religião Católica Apostólica Romana como veículo unificador do seu império e das suas ambições. O livro sagrado foi então escrito, misturando e manipulando muitas informações e mitos.
No mundo pré-cristão era muito popular o culto da deusa Mitra, com origem provável na Índia ou Pérsia. Chamavam-na "Sol Vencedor". O nascimento de Mitra celebrava-se a 25 de Dezembro, data que os romanos consideravam, erroneamente, coincidir com o solstício. Na madrugada de 24 para 25 comemorava-se o Nascimento do Invicto (o alvorecer de um novo Sol), com o nascimento do Menino Mitra.
Em Niceia mais não se fez do que manipular e integrar este culto pagão no ritual cristão. Cristo representa a vida, a luz e a esperança. Então, em vez de festejar o Sol como antigamente, passar-se-ia a celebrar o nascimentode Cristo, absorvendo a festa pagã. Constantino, inteligentemente, viu a forma de consolidar o império e reconverteu o dia do Menino Mitra no dia do Menino Jesus.
Esclarecidos os embustes natalícios, falta dizer que a coisa funciona no hemisfério norte, mas para o sul... Os povos sul-americanos não festejavam o solstício de Inverno em Dezembro, mas em Junho. Logo, o Natal Americano deveria ser em Junho por aplicação linear do raciocínio de Constantino. As comemorações natalícias foram exportadas à força para as Américas aquando da catequização. É mais do que um embuste. É o símbolo vivo do colonialismo evangélico que ainda não vi suficientemente combatido pelo inefável Hugo Chavéz.
Mesmo carregado de equívocos, aqui fica uma mensagem de Bom Solstício para todos... o mesmo é dizer de Bom Natal!
 
Post editado no Expresso da Linha de Dezembro de 2007.

9 comments:

Li Ferreira Nhan said...

Por aqui muitas vezes os " embustes natalícios importados do hemisfério norte" parecem mesmo uma confusão. Uma misturada. Como se fosse uma feijoada acompanhada da laranja lima que a primeira vista pode parecer estranha mas ao fim das contas funciona bem.
Nem sei se estou a falar de religião, de comércio, de ambos ou de nenhum. Enfim...
Quanto ao nosso vizinho falante, o caudilho Chavez, parece que resiste... Como é mesmo; "vaso ruim não quebra".
;)
Boas e saborosas quadras natalícias pra você e toda família Jorge!

myra said...

completamente de acordo com a Li!!!!!!um grande beijo!!!

Anonymous said...

Se fossem só os embustes de natal ...

E os outros? E são tantos ...

O Chavéz, ele mesmo, é um deles, e dos grandes! (Que o Lulinha da Silva não me ouça ...)

Se me ponho a pensar nisto até me dá um equinócio, salvo seja.

Anonymous said...

Esse arquivo do blog tem que ir rapidamente para as páginas de um livro de papel. Ótimo material.

Jorge Pinheiro said...

Até eu próprio me surpreendo às vezes.

daga said...

pois lá está... a tua modéstia ;)
Em relação à "mistura" de crenças religiosas, é frequente quando existe miscelânea de culturas. Por exemplo, no Brasil, o Cristianismo e mitos africanos convivem sem conflitos e interligam-se espontaneamente (penso que Iemanjá é um deles, já li Jorge Amado quase todo ;)
não me incomodo que tenham misturado o solstício com o Natal, (é tudo simbólico) só me incomodo se tiverem deturpado as palavras e vida de Cristo.
beijo natalício :))

Jorge Pinheiro said...

Eu tb não me incomodo. Sou estou a dizer como foi e porque foi. O projecto de Constantino é um projecto de poder e não especificamente religioso. A religião é um meio para um fim.

Selena Sartorelo said...

Quando a ilusão nada mais é do que a união do desejo e a oportunidade. Os questionamentos não foram e não são feitos. Aceitando assim uma mente que menti sem dizer nem não nem sim. O tempo passou e nada mudou..só não percebe quem não quer.Um embuste dessa implacável solidão que não não se desfaz nem em meio a multidão. A ilusão do que quero é sem menos corajosa do que a que preciso. O embuste da fé que sobrevive por equivocadas crenças. Feliz Natal ... O nascimento do markentig e da publicidade tendo com estréia seu mais importante elemento. O consumo da fé.

Jorge Pinheiro said...

Selena: aqui nem é tanto o consumo da fé. Isso é mais no turismo religioso e nos santinhos, nas Fátimas e Lurdes desse mundo de peregrinações, Aqui é apenas um sincretismo religioso que demonstra como se criou um projecto de poder a partir de uma seita mais ou menos exótica. O cristianismo salvou o Império Romano de Oriente.