16.10.14

JEANS


Desde sempre usei jeans. Calça incómoda que entra pelo rabo e aperta os tomates. Vinham em contrabando em navios piratas directamente dos USA. Eram Wrangler, Lee e Levi's. Comprava à mulher do embarcado, ali a caminho da praia de Carcavelos. Era como droga. Ilícito só para entendidos. Sem impostos. Sabor a sal. Estávamos nos anos 60. O tempo era salazarista. O modo careta. Os jeans eram o ocidente, a terra dos hamburgers, o Ketchup da ideologia americana. Elas gostavam de nos ver bem afiambrados, com a fruta em relevo e a braguilha acentuada. O pior das jeans é a tesão marcada que pode provocar danos internos e alegorias externas. Hoje continuo nas jeans sem provocação aparente no aperto metafórico de quem pensa mais do que pode.

13 comments:

João Menéres said...

Pensar é salutar !

Paulo said...

Muito bom! Eu era mais as "Bonanza", feitas com imitação de Denim (nunca ficavam com aquele russo deslavado) e que a minha mãe me comprava no armazém de revenda ali na vila. Procurava destruí-las o mais rápido possível para ver se me promoviam ao menos às "Lois" espanholas.

Jorge Pinheiro said...

Não ias ao contrabandista dos Lombos?

daga said...

"alegorias externas" é muito bom ;) só comecei a andar de jeans com idade mais avançada, porque nos anos 60 os pais queriam "vestidinhos" (seca!!!)

Paulo said...

As calças "Bonanza" eram confecionadas, na altura, numa "fávrica" no Norte que provavelmente integrava trabalho infantil, pelo que eram muito mais económicas que as "Lee" do contrabandista dos Lombos. Lá em casa havia a paixão da austeridade orçamental não havendo, por isso, folga para despesas de representação do tipo: Betinho da Linha (Mauricinho)

Jorge Pinheiro said...

Gosto mais de Pipi da Linha.

Li Ferreira Nhan said...

Por aqui, as autenticas, tb era no contrabando.
Lewis e Wrangler eram de melhor caimento as mulheres. Mas sempre incomodavam. E muito!
Se aos homens apertava os "tomates" para nós a alegoria externa era a tão odiada "pata de camelo"!

Jorge Pinheiro said...

Isso é que é uma alegoria. Só conhecia a "pata de gazela"...

Fatyly said...

Ainda recordo a malta e eu como é óbvio, a esfregarmos as calças na areia e rochas da praia do Mussulo em Luanda.

Realmente eram rijas para caraças, mas como nunca gostei de roupa muito justa, andava bem ó se andava:):):)

Tive que sorrir com a tua narrativa que era mesmo real!!!!

Li Ferreira Nhan said...

Pata de Gazela por aqui é um romance do José de Alencar ;))

Li Ferreira Nhan said...

Pata de Gazela por aqui é um romance do José de Alencar ;))

Jorge Pinheiro said...

Mas aposto que tem outro sentido :))

Jorge Pinheiro said...

Fatyly: e tomava-se banho de mar com elas para ficarem coçadas. Agora já vem assim, uff!