8.12.14

SERRA D'OSSA - I


Serra d'Ossa. Nome mais que duvidoso. Avançamos com três únicas certezas: parou de chover, a serra fica no Alentejo, vamos comer bem como o caraças. Comecem por ir ao "Chana do Bernardino", na Aldeia da Serra. São 180 km bem medidos, partindo do centro do Império. Não há dieta, nem saladas. O vinho abunda.
 

O Bernardino recita uma introdução em que o menu parece um "mantra-cante" recentemente eleito para património universal da Humanidade. A oração apenas serve para aumentar o suspense do apetite. Indecisos entre pezinhos de coentrada, cogumelos com presunto, pimentos assados, migas de batata, sopa de cação ou sopa de tomate com chouriço e bacalhau, decidimos pedir tudo.
 
 
Os pimentos assados apresentam-se de textura suave, a desfazer-se na boca, temperados a alho e azeite encorpado, com vago toque de vinagre de vinho de acidez neutra. O verde predomina. O encarnado sobrepõe-se. O estômago não distingue cores e viva o Benfica.
 
 
A passagem para a sopa de cação revelou-se opípara. Um tubarão em calda de coentros, muito pão e o ovo escalfado a adocicar de amarelo a paisagem gastronómica da planície alentejana. Nunca percebi porquê, mas o cação predomina no Alentejo vindo sei lá de onde e mergulhando no caldo em profusão vertiginosa no agasalho da sopa quente.
 

Adoro as comidas com cores. É tomate alentejano. Agridoce. Envolvente. Indescritível. A sopa vem com entrecosto, chouriço e bacalhau à aparte. Mistura-se tudo na sopa e a sopa fica a falar connosco como se nos conhecemos há muito tempo. No fim ficamos com pena de a ver partir e lambemos o prato com restos de pão que remanescem na toalha emporcalhada de desperdícios gulosos.
 

Para rebater até podem comer abacaxi... Mas é na ameixa de Elvas que está o segredo. São ameixas Rainhas Cláudias, numa calda devastadoramente doce, em que se vêm as próprias calorias em movimento extenuante tentando fugir ao indicador de diabetes. Procura-se assistência médica nos restos de tinto que possam sobrar das garrafas amontoadas para melhorar o colesterol. Nesta fase, as mulheres começam a queixar-se que têm de andar a pé por causa do pneu e os homens queixam-se da falta de álcool para encher o pneu.
 
 
Os vinhos são todos bons. Acima de tudo bebam muito. Facilita a condução nas estradas curvilíneas que entram pela Serra dentro. As curvas passam melhor e tudo parece mais fácil. O perigo do álcool está nas rectas monótonas que nos fazem adormecer no "cruise control" das autoestradas.

12 comments:

daga said...

Realmente come-se bem nesse local :) está com óptimo aspecto, tudo! o meu problema não é "comer" é "cozinhar" :p

João Menéres said...

Uma imagem de MESTRE !

Fatyly said...

Deve ser supinpa ulálá:)

Agora dares o conselho de beberem muito que facilita a condução, não gostei porque podem beber muito mas após que conduza quem não bebeu nada.
Facilitismo à portuguesa ou nem por isso?
Desculpa!

Anonymous said...

Meu caro amigo e glutão Jorge, como bom vegetariano preferencialmente, esse cardápio eu passo com gosto. Nem as cores atrativas, nem a descrição literariamente primorosa me faz salivar
.

Jorge Pinheiro said...

Fatyly: só recomendo quando há curvas :))

Jorge Pinheiro said...

Eduardo: vai ver que isso das ervas ainda lhe vai passar :))

João Menéres said...

O meu comentário referia-se muito concretamente à do copo.
Eu sei que lhe apareceu e que o Jorge nada fez...

Silvares said...

Jorge, Jorge, é por essas e por outras que o Inferno está cheio de clientes divertidos.
;-)

Anonymous said...

Jorge, pois pois...

João Menéres said...

Não me canso de olhar para a imagem onde está o copo !
O guardanapo, as sombras...
Até a textura da toalha !

Jorge Pinheiro said...

Saiu-me bem, concordo. Obrigado.

João Menéres said...

O que é que ao Jorge não sai bem ?