21.4.15

MORTE TIBETANA - IV

O "bardo" tibetano não é o limbo cristão. No limbo a malta já se teve de portar mal. Não chegou ao pecado mortal, mas cometeu seguramente alguma venialidade. Sei lá, roubou caramelos, meteu-se na política, foi banqueiro... No "bardo" vão todos lá parar. Os bons, os feios, os porcos e os maus. Mas ao menos têm uma certeza: sabem que vão sair dali. Agora como e quando é que nunca saberão. Andam inquietos à espera do Karma adequado, espreitando os relacionamentos mais aguerridos, num voyeurismo salvífico que os traga de novo aos 0,4% de consciência. E tudo recomeça de novo. A meditação, o arroz integral, as dioptrias cansadas da tomada de consciência. Aparentemente seria mais fácil uma simples ressurreição, mas o Rui garante que não:
"Ora de todos os hábitos concetuais e emocionais, o mais forte é o desejo de continuar a “existir”, quer dizer, neste caso, de arranjar outra vez um corpo. De forma que a pessoa no bardo procura desesperadamente uma ocasião de se associar a um novo corpo. O aparecimento desta ocasião depende do karma da pessoa, quer dizer dos condicionamentos resultantes de tudo o que a pessoa viveu. E quando a ocasião surge, a pessoa “vê” o futuro pai e a futura mãe ternamente unidos (sejamos otimistas) e no momento fisiológico da conceção, o princípio consciente associa-se intimamente ao novo corpo.
É preciso saber que o choque da morte é extremamente forte psicologicamente, e que as memórias que a pessoa tem no momento de morrer desaparecem muito rapidamente ao longo das sete semanas, em média, que dura o bardo. E o nascimento é outro choque fortíssimo. São estes choques que fazem com que se perca habitualmente as memórias da vida precedente".

(Continua)
 

3 comments:

João Menéres said...

Bom...afinal terei por esperar por 5ª feira, se tudo correr bem...

Paulo said...

A sequência lógica será que, quem for bem preparado vai manter as memórias anteriores na reencarnação seguinte, o que me parece ser uma grande responsabilidade. Ora passa-me aí o charrito por favor!

Paulo said...

...acho que este comedor de carne ainda vai ter que dar muitas voltas.