4.4.15

TIO RUI

Conheci o Rui Oliveira por volta de 1971. Apareceu não sei de onde e juntou-se ao Ephedra sei lá porquê. De groupie passou a guru. Naquele tempo, guru era alguém que pensava mais à frente. Alguém que buscava respostas redentoras. Alguém que se queria sublimar. Alguém que procurava a continuidade do espírito. Rapidamente o Rui passou a "Tio Rui". Um jovem inquieto por dentro e calmo por fora, de cara redonda e olhos vagamente orientais. Um jovem obsessivamente em busca de si próprio. Enquanto nós comíamos bifanas de porco carregadas de mostarda e muito vinho tinto, o Tio Rui mastigava 28 vezes o arroz integral com panados de cenoura deglutidos a chá verde com sabor a coisa nenhuma, tudo transportado a tiracolo num bornal esverdengado pendente do ombro. Ficávamos sempre à beira do abismo, na incerteza da dúvida metafísica. Será que ele sabia? Porquê aquela busca? Intrigante. Perturbante... Maçador. Pelo sim pelo não ficávamos atentos não fosse ele descobrir o segredo da ressurreição ou apenas a mera reencarnação, que já não seria nada mau. Em 1973 o Tio Rui fugiu de Portugal. Fugiu à tropa e à guerra do Ultramar. Fugiu para Bruxelas e nunca mais o vi. Foi pela net que nos redescobrimos há pouco mais de um mês. Passaram 42 anos. Desde então temos mantido correspondência regular. O Rui é monge budista tibetano e está a contar a vida dele. Vamos na Temporada 1, Episódio 4. A história é brutal. Uma vida absolutamente alternativa que impressiona pela coragem, desprendimento e amor. Agora que toda a gente desatou a morrer à nossa volta, o Tio Rui vai ter muito que explicar. Como se renasce... Como se salva a alma... O que acontece ao corpo... Quem somos... Para onde vamos... E não haverá um atalho? Ontem em conversa com mais três "ephedras" que ainda não resolveram morrer, pensámos em patrocinar uma cooperativa celestial, tipo "Renasciturus", "Concórdia Divina" ou mesmo "Felicidade Eterna". O Tio Rui voltava para Portugal e agora, pois mais sábio e mais reencarnado, ensinava-nos a sair Disto. Fica o desafio.
Foto de 1973: Pavilhão Gimnodesportivo da Amadora, ao centro Rui Oliveira (Tio Rui).

7 comments:

João Menéres said...

Para essa Cooperativa o nome de
CONCÓRDIA DIVINA é bom !
Mas o Jorge para dar títulos não carece nem de inspiração e, menos ainda, de apoios !
Aquem devo o nome do meu blogue ?
- Ao Jorge, é claro !

E a quem devo o nome de IMAGINI ( de quem nunca ouviu falar até hoje ? )
- Ao Jorge, claro está !

Penso que o Jorge está aqui sentado à nossa direita de óculos.
Será ?

42 anos depois...
Fabuloso se um um dia se encontrarem fisicamente !...

Jorge Pinheiro said...

Não, não sou eu. À esquerda é o Fernando Girão (na altura era conhecido por Very Nice).

João Menéres said...

O Jorge foi quem fotografou ?

Jorge Pinheiro said...

Não. Não faço ideia de quem é a foto. Estava nos arquivos da banda. Foi num concerto na Amadora. Os outros são de outras bandas. O de cabelo comprido é o Very Nice (Fernando Girão). Lembra-se de "Aquela máquina"?

João Menéres said...

Só tenho uma ideia, Jorge...
A idade não perdoa.

Jorge Pinheiro said...

Era uma publicidade à Regisconta, salvo erro.

João Menéres said...

Ah !...