4.1.17

COMIGO MESMO - XXVI


A casa da Ferreira Lapa, em Lisboa, era arrendada. Nós morávamos no rés-do-chão e os senhorios no 4º andar. Um dia, 40 anos mais tarde, cheguei à conclusão que a Fernanda era muito amiga da Cristina Aguiar, filha dos senhorios do prédio e que ainda lá morava. Mais uma daquelas coincidências em que sou fértil.
A Cristina Aguiar conhecia-me de bebé. Devemos ter chegado a brincar no saguão estreito nas traseiras do prédio. Havia uma escada de emergência em metal que percorria todos os andares pela rectaguarda, na vertigem dos degraus sem protecção. Do saguão partia um túnel escuro e comprido que servia para a serventia do lixo e que nos levava directamente para a rua. Uma aventura que acabava inevitavelmente no Sr. Zé da mercearia ou na carvoaria, mais abaixo, onde o carvão era pretexto para copos de três de gente avinhada logo pela manhã. Na rua ouviam-se os pregões lisboetas “Quem quer figos, quem quer almoçar” ou “Oh viva da costa”.

4 comments:

João Menéres said...

Ai esse túnel escuro...até chegar à rua.

( Realmente, o mundo - mesmo só confinado que seja a Lisboa - é muito pequeno ).

Li Ferreira Nhan said...

Copos de três? Não percebo.

Jorge Pinheiro said...

Eram os chamados copos de vinho que custavam três tostões. Vinho mauzote.

Li Ferreira Nhan said...

Ah!
Rsrsrsrs