8.1.17

COMIGO MESMO - XXX


Era também na sala de jantar, em cima da grande mesa preta, que o meu pai brincava com o comboio eléctrico. Uma prancha enorme, pintada de verde, com linhas, pontes e túneis. O comboio circulava sinuoso por entre aldeias coladas à tábua, árvores miniatura, lagos pintados a azul-celeste, rebanhos de ovelhas brancas e pastores de plástico encarnado. Carruagens diversas, duas locomotivas Marklin e um poderoso transformador que dava vida a todo o material circulante. Eu adorava, mas suspeito que o meu pai ainda gostava mais. Ele era um bricoleur inveterado. Sempre colecionou ferramentas de todo o tipo e usava-as com mestria insuperável. Era um perfeccionista. Acho que era algo que o fazia descontrair da vida intensa que tinha no dia-a-dia. Nunca saí a ele. Sempre preguei pregos às três pancadas. Sempre usei o Black and Decker como se fosse uma escavadora. Sempre enfiei buchas sem buraco.

4 comments:

João Menéres said...

Nunca achei grande piada a essas brincadeiras que custavam dinheiro.
Sempre preferi ser médico...
Percebe, Jorge ?
:-)

Li Ferreira Nhan said...

Penso que enfiar a bucha sem o buraco exige grande habilidade!

João Menéres said...

LI

O teu comentário é hilariante !


Beijos.

Jorge Pinheiro said...

:))