1.2.17

COMIGO MESMO - LI


Algures por volta de 1958/59, a minha mãe concorreu através da Caixa de Previdência do Ministério da Educação Nacional, de que era sócia com o nº 17845. A ideia inicial era comprar uma casa própria. Ela não estava muito esperançada. Ficou em lista de espera e não estava a pensar ser chamada tão cedo. Mas passado pouco tempo chamaram. Havia possibilidade de empréstimo. Talvez a ideia fosse uma casa em Lisboa. Mas um colega da minha mãe, o Dr. Conceição Correia, que tinha já casa em Nova Oeiras, na Rua B, mais tarde Av. António Salazar e hoje Av. Salvador Allende, uma casa quase ao pé da Estação da CP, entusiasmou-a a vir para cá. Era perto do comboio. Um bairro a nascer. O Liceu também não era longe… 
O lote escolhido foi o 138, da Rua A (hoje Alameda Conde Oeiras, nº 65). O meu pai, como já referi, estava em Paris a frequentar a Écolle de Guerre. Acabou por recair quase tudo sobre a minha mãe. O pedido acabou por ser atendido em 20 de Maio de 1960.
O terreno, custou 226.000$00, despesa não suportada pela Caixa. O empréstimo (autorizado a 23 de Março de 1961) para a construção da casa propriamente dita, foi de 434.000$00. Um empréstimo no regime de propriedade resolúvel, ao abrigo do Decreto-Lei nº 40.674, publicado no Diário do Governo de 6/7/56. O total foi de 767 contos – terreno, construção e despesas burocráticas diversas. A Escritura de Compromisso entre a minha mãe e a Caixa foi celebrada em 7 de Abril de 1961 (Cartório Notarial da Rua do Crucifixo, em Lisboa).
Este é o meu mundo. É nestes 905 metros quadrados que vivo. Que ponho e disponho. É o meu reino. Uma casa que nasceu e cresceu. Transformou-se e adaptou-se. Renovou-se e redecorou-se. Uma casa de família ainda nova e que, no entanto, já é velha. Velha de sentimentos e de presenças. De mortos e de vivos. Quanto mais tempo será da família? Uma interrogação que não cessa de me atormentar nestes tempos de crise económica.

3 comments:

João Menéres said...

A sua mãe teve grande coragem !
Não sei estimar quanto representariam hoje esses 767 contos...
Sei que a casa actualmente vale uma maquia muito significativa.
Como a conheço vista de noite, não sou capaz de de traduzir as alterações ( se as houve no exterior ).
Mas que está rodeada de arvoredo, isso está.

Sabe que ainda não acabei de esvaziar a da Boavista, Jorge ?
( É uma deixa que fica para as suas reflexões. )

Aquele abraço.

Jorge Pinheiro said...

Pois, a tralha acumulada é impressionante.

João Menéres said...

E nunca mais acabo, Jorge, pois seleccionar o que é para o lixo leva semanas e semanas, para não ser ÁS CEGAS.