2.2.17

COMIGO MESMO - LII

Os primeiros habitantes de Nova Oeiras não nasceram cá. Vieram colonizar um bairro que nascia. Nascia moderno, planeado, amplo e diferente. Na época ninguém tinha consciência disso. Parecia um “far-west” de Lisboa.
Quando cheguei a Nova Oeiras faltavam ainda construir duas Torres. Parte do Centro Comercial ainda tinha andaimes. A Alameda era feita de pó. O alcatrão só veio dois ou três anos depois. Era um pó grosso puxado a vento norte que infestava as poucas moradias existentes e exasperava as donas de casa mais exigentes.
Não havia jardins, nem relva. O bosquete era uma promessa em crescimento. As árvores não passavam de finos prumos ancorados a estacas de suporte na expectativa de virem a dar sombra um dia mais tarde. As cobras circulavam livremente nos baldios onde hoje estão os campos de ténis.
Aqui era a Quinta Grande, dos Marqueses de Pombal. O terreno era duro e agreste. Não era cultivado desde que a filoxera, algures por volta de 1860, destruíra as vinhas do Carcavelos. Foi nessa terra dura que desenhámos por entre as ervas bravias os caminhos de pé posto. Caminhos que ainda hoje se mantêm por entre as árvores que entretanto cresceram. Por todo lado havia fósseis. Conchas e cornucópias, inegáveis testemunhos de que o oceano estivera aqui. Vestígios ancestrais que ainda hoje conservamos e que bem poderiam estar num “museu atlântico”.

3 comments:

João Menéres said...

Claro que eu não podia saber do nascimento de Nova Oeiras...
Muito importante ter incluído essa já histórica fotografia aérea !
E brinda-nos com o seu estilo literário : escorreito, sintético, directo e esclarecedor.
Julgo que o Tejo fica à direita...

Anonymous said...

Não podia imaginar uma terra tão árida quando estive aí alguns anos atrás.

Jorge Pinheiro said...

Foi em 1961.