3.2.17

COMIGO MESMO - LIII


Em Fevereiro de 62 a minha vida mudou radicalmente. De filho único isolado e protegido em Lisboa, passei, no espaço de 2 ou 3 meses, a gandulo de rua. Viver numa moradia é estar permanentemente lá fora. É só abrir a porta. Não há elevadores, escadas, obstáculos. A porta é a única fronteira. Uma fronteira muito ténue.
Comecei a conhecer gente. Julgo que o primeiro que conheci foi o Jaime Abreu. Ia eu de bicicleta e um rapaz gordinho chamou-me e pediu para dar uma voltinha. Daí para a frente fui-me integrando na comunidade existente, o que nem sempre foi fácil.
Entretanto havia o Liceu Nacional de Oeiras, que, naquele tempo, abrangia toda a Linha de Cascais (o Liceu de S. João só foi inaugurado em 1968). Um mar de gente inundava todos os dias aqueles corredores barulhentos. Tínhamos dezenas de colegas de todas as proveniências. Uma mistura saudavelmente democrática e socialmente relevante: desde “queques da Linha” e “meninos bem de Cascais”, aos alunos que vinham detrás da Linha, de Laveiras, de Barcarena, de Matos Cheirinhos ou mesmo de Varges Mondar.
As miúdas tinham aulas de manhã. Os rapazes só tinham aulas à tarde. O cruzamento era à saída. Nós começávamos às 13,30h e íamos assistir à saída talvez levados por um impulso... romântico.

2 comments:

João Menéres said...

Que nomes aprendi agora !
Quanto ao impulso : SAUDAVELMENTE NATURAL !

Anonymous said...

Ler os textos do Jorge, sempre ensinam alguma coisa....