A 10 de Setembro de 1438 sobe ao trono Afonso V, o Africano, filho do rei D. Duarte e de Leonor de Aragão. Tinha então 14 anos de idade. Na sua menoridade, a regência do reino ficara a cargo do tio, D. Pedro, um dos melhores diplomatas da Europa de então, mas contra quem o jovem monarca se voltaria, vítima da intriga palaciana da Casa de Bragança. D. Pedro acabaria por ter de pegar em armas e ser derrotado e morto na trágica batalha de Alfarrobeira (1449). Afonso V casaria com a filha de D. Pedro, D. Isabel de Urgel, sua prima, por quem tinha grande paixão. O Duque de Bragança e o Duque de Aveiro acabariam por pagar com a vida as intrigas em que se envolveram, sendo condenados à morte no reinado seguinte de D. João II (o Duque de Aveiro seria mesmo morto pelo próprio rei, D. João!).
Afonso V era grande e robusto. Muito eloquente e amigo das letras. Mui deteminado e animoso nas matérias de guerra e nas de paz e justiça um tanto remisso. Na verdade o monarca era mui galhofeiro. Gostava de pândegas e de se misturar com o povo. Consta que não sabia dizer que não a uma boa sandes de courato ou de torresmos, acompanhada por uns púcaros de tinto. Pelava-se por uma boa rixa e adorava dar cacetada nos mouros. À conta disso embrulhou-se em guerras sucessivas e fracassadas com Castela que teimava em anexar e encetou campanhas no norte de África, onde conquistou Arzila, Tânger e Álcacer Ceguer. Uma política despesista e guerreira que consumia homens e meios. Mas o povo adorava-o e tudo lhe perdoava!
A verdade é que enquanto os reis anteriores, da dinastia de Avis, estavam já no renascimento, Afonso V continuava amarrado à Idade Média. Um espírito cruzadístico e feudal que manteve os poderes das Casas Senhoriais, ao arrepio do que vinha sendo feito. A centralização do poder só seria efectivada com D. João II, o Princípe Perfeito, seu filho e que muito cedo seria associado ao poder. Seria a D. João que se ficaria a dever a construção do Império Marítimo Português.
Um momento houve em que pai e filho reinaram simultaneamente. Um empunhando o ceptro e reinando de direito, o outro gerindo efectivamente o Estado e reinando de facto. D. João era o homem do bom-senso que tudo perdoava ao pai. D. Afonso, o ferrabraz, o homem das infantilidades, dos impulsos e das decisões irreflectidas que o filho corrigia paternalmente. É um caso único de respeito e amor filial. D. João nunca se deixou convencer por intrigas e manteve esta situação até à morte do pai (1481).
Refira-se o caso do desaparecimento do rei por volta de 1476. Primeiro dirigiu-se a França para efectivar um complexo conjunto de alianças com o seu primo Luís XI, sempre com a mira em Castela. Tendo-se gorado as negociações, envergonhado, o rei decide rumar em peregrinação a Jeruslém, abdicando a favor de D. João. Desaparece durante semanas e acaba sendo encontrado andrajoso numa modestíssma estalagem de aldeia e trazido, à força, para Portugal. Desembarcado em Oeiras, o filho devolve-lhe o ceptro real e ele, lavado em lágrimas, pede desculpa a todos, arrependido já dos incómodos causados.
Afonso V morre em 1481, em Sintra, no palácio onde tinha nascido 49 anos antes. Imaginem se tivesse durado mais...!
jp
5 comments:
Bem lembrada efeméride, melhor lição de história.
Gosto de ler a História de Portugal, aqui por suas palavras, sabemos de coisas que não estão nos livros.
bjs.
JU Gioli
wow...nice blog
Que legal conhecer a história de Portugal antes da descoberta do Brasil, isto não aprendemos nas escolas brasileiras. Mas e D. Manuel, que reinava em 1500, era neto de Afonso V? Hum, vou aguardar o próximo post de história...
Maria Augusta: o Brasil já estava descoberto... Lá chegaremos. Obrigado pelo seu interesse.
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