Corrida
ao Centro Comercial. Estaciono onde não posso. Saio por onde não devo. Entro
por qualquer sítio. Agarro um par de peúgas. São azuis ou pretas? Tanto faz?
Empurrão pelas costas. Sou atirado à secção de pijamas. Vai um para o pai. Sei
lá se é Large. Depois trocam? OK. Fixe. Lista, lista… Falta o bâton para a mãe.
Irra, não tem desta cor. Então pode ser mais escuro. Esse, esse serve. Bip…SMS.
“Para a família e tal, pois que o Natal, também para ti, o mundo melhor”. Não
vem assinado. Sei lá quem é. Olha, “Igualmente”. Segue! Lista, lista… Agora é a
secção infantil. “Não. Não quero embrulho”. E, a bem dizer também não quero
pagar! Gente e mais gente escorre pelas escadas rolantes. Sempre à última hora!
É pá, desisto. O resto fica para depois do Natal. Vou dar uns cupões em crédito
para compras. O melhor é mesmo dar dinheiro… Porque não me lembrei desta
antes!!! Alto… E o Bolo-Rei e as rabanadas! Volto a sair. Bip… Entra mais um SMS. “Família que se
cuidem p’ra pior já basta assim e 2009 também Santo para vocês”. Mais
“Igualmente”. Fiquei sem dinheiro. Multibanco. Filas. Telemóvel em modo
insistente. “Olá, estão bons?” Zás… Código. Carteira. Tudo no chão. “Só um
minuto!”. “Quem fala?”. Máquina engole cartão. Fila impaciente. “Está”. “Bom
Natal”. Pois…! Que se lixe o cartão. Não percebi quem era. Tarde passada em
visitas sucessivas na correria acelerada. “Boas Festas… Para todos… Sim…
Igualmente… Pois a crise… É a vida... Claro… A família… Tem de ser… É preciso é
saúde…”. Consoada pontual no bacalhau cozido com couves e alho. A lampreia de
ovos. Rabanadas. Bolo-Rei. Mesa em dourado. Prendas a despachar. Filhos da Fernanda.
Os meus filhos ficaram com a minha ex-mulher. Vem também a ex-sogra da minha
actual mulher. Os meus ex-sogros não vieram. Mas também porque haviam de vir? O
neto da Fernanda pode vir hoje. Amanhã está com a ex-mâe, perdão, com a
ex-mulher do filho que não é meu. O meu pai está no hospital. O meu futuro
sogro também. A minha mãe não quer consoada. A madrasta da Fernanda também
ficou por lá. Depois do jantar vamos lá a correr… Não sei fazer o quê! Dia 25,
almoço com os futuros ex-sogros. Já não sei! Jantar com os meus pais e com os
pais dos meus futuros netos. Enfim, filhos dos outros filhos que também são
meus filhos. Ah, mas a namorada do meu filho não vai. Tem de ir à mãe que ao
almoço esteve com o pai. Prendas despejadas à pressa, na pressa que o tempo
passe… Onde fica o Natal no meio disto tudo? Boas festas para todos.
(Texto incluído no meu livro Post It).
5 comments:
Aqui na Piacaba não ouço falar disso...
Daqui a 15 dias é preciso voltar a empacotar os enfeites natalicíos !
O Natal fica à distância de 2 dias, Jorge.
Não se despiste.
E é à noite...
No dia seguinte, temos cá o ALMOÇO DE NATAL.
Há 50 anos que é assim !
As tradições são para manter. Este ano tenho os meus filhos fora. Um na Sardenha, outro em Vila Real. Ainda bem que tenho os filhos da Fernanda e a minha mãe.
Tua crônica é atemporal.
É verdade que hoje em dia os SMS perderam a vez para o WhatsApp que acredito que muito em breve também será substituído.
Também por isso mesmo ela é atemporal.
:)
Jorge, desejo que tuas festas sejam fartas em carinho, saúde, alegria, comidas e bebidas!
Obrigado e igualmente para todos.
Post a Comment