24.7.07

PLATIBANDA

Contrariamente às casas alentejanas, de influência berbere e de carácter feminino, em que a cozinha é o sítio por excelência da sociabilidade e em que se assume o isolamento absoluto (vejam-se os "montes"), as casas de fachada, comuns no Algarve, têm carácter masculino, estando ligadas ao complexo de exibicionismo e, portanto, não suportando estar afastadas das vias de trânsito. É tão forte a necessidade de publicitação desse exibicionismo que as ruas ficam sufocadas pelo complexo.
Neste contexto, o ideal seria mesmo que a casa se reduzisse à própria fachada. É o caso das fachadas em platibanda, em que a fachada toma o lugar da casa, tal qual um cenário cinematogràfico.
Desde a Renascença que o horizontal tenta conter o vertical. O Barroco veio ajudar. O disfarce passa a ter uma componente canónica de religiosidade. Assim, modestas construções podem esconder-se atrás de espaventosas fachadas.
A técnica da ilusão, escondendo telhados atrás de platibandas surge entre 1915 e 1935, num período de relativa melhoria económica. Mas a platibanda não é nada se não for decorada. A platibanda passa a ser sinal de riqueza e ostentação, provocatoriamente exibicionista. Utiliza quase sempre motivos decorativos multiseculares de estilo geométrico (não é o caso da foto) e, evoluindo mais tarde, para metáforas oculares, a partir do motivo losangulado, numa tradição anterior à escrita tartéssica do sudoeste peninsular.
jp

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