21.12.07

A ÚLTIMA CEIA

Na sua qualidade de "Mestre de Festas e de Banquetes" da corte de Ludovico Sforza, em Milão, Leonardo Da Vinci foi encarregado de remodelar as cozinhas do castelo. Uma oportunidade única de Leonardo demonstrar todo o seu génio.
Durante seis meses deitou mãos à obra. Alargou as cozinhas para o dobro da área, ocupando quase metade do pátio do castelo e obrigando a corte dos Sforza a retirar-se para casa de amigos enquanto as obras duraram. Instalou um tapete rolante que transportava, ininterruptamente, do exterior, lenha já cortada. Instalou também um assador automático dentro da chaminé, movimentado pela corrente de ar quente que subia e que fazia girar um hélice ligado ao espeto. Instalou, ainda, uma escova giratória para manter o chão sempre limpo; um picador de vacas inteiras, movido a cavalos; uma máquina de cortar pão movida a energia eólica; um dispositivo de tubos em espiral, aquecido por carvão, para manter a água sempre a ferver; instrumentos musicais automáticos movidos a manivela, para dar alegria no trabalho; uma armadilha sofisticada para eliminar rãs dos barris de água de potável; um engenhoso sistema de aspersão para inundar a cozinha em caso de incêndio; etc, etc. Só que Da Vinci era sempre melhor na teoria do que na prática...

No dia do banquete inaugural tudo correu mal. Passada uma hora sem que nada fosse servido e ouvindo uma arrepiante e interminável série de gritos e explosões, os convidados decidiram ir ver o que se passava. Eis aqui uma descrição do embaixador florentino, Sabba de Castiglione di Pietro Alemani: "A cozinha do mestre Leonardo é um manicómio. Em lugar dos habituais 20 cozinheiros, agora há umas duas centenas de pessoas afadigando-se com grandes engenhos que enchem o chão e as paredes, nenhum dos quais parecendo funcionar de modo útil ou adaptado à finalidade para que fora criado.
Numa das extremidades da cozinha encontrava-se uma roda hidráulica, que, posta em movimento por cascata que se despenhava sobre ela com fragor, salpicava e encharcava tudo e todos, transformando o chão num verdadeiro lago. Foles gigantes, com 4 metros de comprimento, suspensos do tecto, bufando e rugindo, destinados a afastar o fumo dos fogões, apenas conseguiam aumentar as chamas que, entretanto, se tinham propagado de forma incontrolável. E por toda esta área de cataclismo vagueavam cavalos e bois fazendo girar um engenho cuja função não parecia ser outra senão andar meramente às voltas. Também me foi dado ver a grande trituradora de vacas, avariada, com metade de um mamífero ainda presa na engrenagem... Num outro sítio estava o dispositivo de lenha de mestre Leonardo que despejava ininterruptamente a sua carga na cozinha e nada o conseguia parar, aumentando, assim, o fogo que alastrava. Homens gritavam queimados ou sufocados. Explosões de pólvora, que mestre Da Vinci insistia em usar para acender os seus fogos de combustão lenta, atroavam os ares, enquanto os tambores automáticos continuavam a rufar impiedosamente..."
Ludovico Sforza decidiu castigar Leonardo, excluindo-o da corte por três anos e mandando-o pintar um retábulo na igreja de Santa Maria Delle Grazie, sabendo que o mestre detestava pintar. E foi assim que, 3 anos depois, esgotados os mantimentos e completamente seca a adega do prior da dita igreja, Leonardo e os seus seis discípulos acabam, em esfoço, a obra mais reputada de Da Vinci e cujo tema é, mais uma vez, a comida. A obra chama-se a"A Ùltima Ceia".
Para saber mais, ler "Notas de Cozinha de Leonardo Da Vinci", compilado por Shelag e Jonathan Rough.
jp

1 comment:

astracan said...

À "Última Ceia", até agora, ninguém ligou nenhuma!
Se por o texto ser "longo", com a velocidade e falta de tempo que, cada vez mais, por aí grassa, se por " cheirar" a igrejos, se ainda porque as bolsas não permitem grandes "ceias". Realmente não sei. Mas que o teu blogue é pleno de informação útil, não agradando tudo a toda a gente, como é obvio, lá isso é!
Mais um abraço e um consistente 2008!