29.1.08

AS PROSTITUTAS DE ROMA

Roma deve a sua fundação a uma loba. Porém, subjacente a este mito haveria uma realidade muito mais trivial: os bebés abandonados não ficaram a dever a salvação ao leite de uma loba mas sim à caridade de uma mulher, a quem chamavam Lupa (loba) os pastores com quem ela se prostituía. Seja fantasia ou não, a prostituta continuou a ser, para os romanos, a loba à espreita da sua presa, no seu antro, o"lupanar".
As prostitutas romanas têm por função essencial a preservação da família, evitando aos homens o perigo do adultério e proporcionando-lhes prazeres sem consequências domésticas, garantidos por profissionais competentes. Eram uma instituição fundamental na sociedade. Séculos mais tarde, Stº Agostinho, não obstante os preconceitos da moral cristâ, não hesita em afirmar: "Se banires a prostituição da sociedade, reduzes esta sociedade ao caos, por causa da luxúria insatisfeita". As prostitutas de Roma são oficialmente associadas, uma vez por ano, a festividades em prol da salvaguarda do povo romano. Aquando das Florárias que, em Abril, celebravam a divindade da vegetação, Flora, o ponto máximo era o desfile das cortesãs da cidade, nuas e interpretando mimos eróticos.
A principal razão de queixa contra as cortesãs era a sua avidez insaciável, em relação à fortuna dos cidadãos. Por isso elas são denominadas "meretrix" (a que tira o dinheiro do seu corpo).
As meretrizes são, em princípio, escravas ou libertas (mulheres que receberam carta de alforria). Podem também ser mulheres livres, pois naquela sociedade uma mulher privada de pai, marido ou irmão quase não tem outras hipóteses.
Na época republicana as meretrizes estão proibidas de usar vestidos enfeitados na rua. Têm de envergar por cima uma toga castanha. Com o advento do Império deixa de ser assim. As cortesãs saem à rua requintadamente arranjadas e, a pouco e pouco (a partir do séc. I a.C), com a liberalização dos costumes femininos, quase não há diferença de aspecto entre as "marginais" e as esposas legítimas. A fronteira torna-se tão ténue que, por vezes, se cria a confusão. Algumas matronas tentadas pela grande liberdade sexual das meretrizes, chegam mesmo a inscrever-se nas listas de prostitutas estabelecidas pelas autoridades policiais.
Ainda hoje muitas mulheres gostam de se vestir como prostitutas e muitos homens gostam de as ver assim vestidas. A líbido é insondável. Felizmente já não há listas policiais!
jp

5 comments:

Al Kantara said...

Esperei dois dias. Toda a gente tem opinião sobre tudo e mais alguma coisa. Agora, sobre putas, nem um pio !...

Jorge Pinheiro said...

Podes crer!!!

astracan said...

Olha, que se foda!

Xantipa said...

Caro JP,
Não conhecia o seu blogue e queria dar-lhe os parabéns. Ainda não o explorei na totalidade, pois tenho andado apenas a ler a sua sequência sobre o amor. E é relativamente a este postal que queria fazer um comentário. Surpreendeu-me (porque não o conheço bem, provavelmente) que escrevesse que «Ainda hoje muitas mulheres gostam de se vestir como prostitutas».
Não entendi: há um modo específico de vestir como tal? O que são hoje os mantos castanhos? Como é não se vestir como uma prostituta? Tem a ver com decotes, saias curtas, pinturas, lingerie? E qual a consequência de uma mulher se vestir como uma prostituta? Ser confundida e ser tratada como uma? E o que será ser tratada como uma? Terão algumas pessoas algum direito de tratar (=julgar) as outras pelo modo como se vestem?
Estou a ser ingénua propositadamente, pois sei que o fazem, mas não será nosso dever lutar contra isso?
Desculpe o longo comentário, que não invalida o prazer que tive em ler o resto do postal.

Valery said...

Vivendo e aprendendo. Acho que toda mulher deveria se vestir que nem uma prostituta. E ser fiel infiel (embora finja não o ser).