Receoso que esta fosse mesmo a última ceia, corri para a zona de Castelo de Vide e Marvão, onde havia garantias de sobrevivência biblícas.
O jantar de 5ª Feira foi leve, para permitir alguma penitência espiritual: uma singela sopa de cação com poejos, galo de fricassé e javali no forno de lenha com batata assada. Sobremesa, a tradicional boleima.
Na 6ª Feira Santa, depois de uma rápida incursão a Portalegre, onde, felizmente, os museus estavam todos fechados, fomos direitos ao almoço, no "Tomba Lobos", ali na povoação de Pedra Basta, na estrada para Alegrete. E bastou: entradas de perdiz de escabeche, miúdos de coentrada, peixinhos da horta e pimentos no alho; presunto serrano e carpacio de toucinho; moleijas com chocolate e brochetas de tomate; gamo em vinho tinto; intervalo digestivo para degustação de azeite em vinagre balsâmico; queijo assado no forno; empadão de bacalhau com espargos bravos; cozido de grão. Finalmente os doces: torrão real; toucinho do céu; fartes e boleimas. Uma catedral, este "Tomba Lobos"!
A tarde foi um doloroso interlúdio até ao jantar que se viria a concretzar em El Pino, a 10 quilómetros da fronteira, onde o portuguès "Tonho" Zé tem um restaurante, em fuga permanente à ASAE. Uma ligeira sopa de bacalhau para acamar e queixadas de porco assadas ("burras"), para rematar. Doces em Espanha, esqueçam. Deus deu-lhes quase tudo, menos doces e petróleo.
O Sábado era de Aleluia. Os nossos anfitriões não hesitaram e ofereceram-nos um almoço memorável, enquanto lá fora o granizo batia leve, levemente... mas nós não fomos ver. Pezinhos de coentrada; cabeça de porco com feijão; sarapatel; bacalhau dourado e carne fresca com batatas (assim se chama aqui o ensopado de borrego que, dantes, só era confeccionado em alturas festivas. No resto do ano, era carne de porco da salgadeira). Tudo isto regado com água cristalina, está claro.
A tarde foi de enorme expectativa pela hora do jantar que, retinente, lá veio. Eram 20 horas e uma sopa de peixe do rio, acompanhada a fatias de carpa frita, seguida de um achegan escalado ao alho e salsa, insinuou-se-nos no restaurante "Casa das Carpas", em Castelo de Vide. Para rematar, dei-lhe com tarte de castanha, não fosse o diabo tecê-las!
É claro que peixe não puxa carroça, ainda por cima depois de uma missa gelada e de uma chocalhada a correr pela vila fora, dando ao badalo até cair para o lado. Por isso, era meia-noite e dada a fraqueza que todos exibíamos, houve chouriço assado e açorda alentejana na adega do turismo rural onde ficámos ("Turimenha", 917303725, São Salvador da Aramenha)
Útima ceia? Não acredito. Quando muito é ceia móvel!
jp
4 comments:
O meu conselho é que não penses em medir colesterol, ácido úrico e triglicéridos antes das férias grandes...
Francamente Expresso,
Nós aqui por Lisboa a levar isto de jejuns e quaresmas a sério e tu na desbunda.
Não sei se é a última ceia mas que foram muitos pecados ( e dos antigos eu diria que foi a gula )lá isso foram.
Agora em Lisboa toca de ires à confissão e contares tudo so Sr. Padre.
Um abraço
Vou ao padre fazer análises, de resto não me queixo.
excellent points and the details are more precise than somewhere else, thanks.
- Murk
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