24.3.08

ÚLTIMA CEIA?

Receoso que esta fosse mesmo a última ceia, corri para a zona de Castelo de Vide e Marvão, onde havia garantias de sobrevivência biblícas.
O jantar de 5ª Feira foi leve, para permitir alguma penitência espiritual: uma singela sopa de cação com poejos, galo de fricassé e javali no forno de lenha com batata assada. Sobremesa, a tradicional boleima.
Na 6ª Feira Santa, depois de uma rápida incursão a Portalegre, onde, felizmente, os museus estavam todos fechados, fomos direitos ao almoço, no "Tomba Lobos", ali na povoação de Pedra Basta, na estrada para Alegrete. E bastou: entradas de perdiz de escabeche, miúdos de coentrada, peixinhos da horta e pimentos no alho; presunto serrano e carpacio de toucinho; moleijas com chocolate e brochetas de tomate; gamo em vinho tinto; intervalo digestivo para degustação de azeite em vinagre balsâmico; queijo assado no forno; empadão de bacalhau com espargos bravos; cozido de grão. Finalmente os doces: torrão real; toucinho do céu; fartes e boleimas. Uma catedral, este "Tomba Lobos"!
A tarde foi um doloroso interlúdio até ao jantar que se viria a concretzar em El Pino, a 10 quilómetros da fronteira, onde o portuguès "Tonho" Zé tem um restaurante, em fuga permanente à ASAE. Uma ligeira sopa de bacalhau para acamar e queixadas de porco assadas ("burras"), para rematar. Doces em Espanha, esqueçam. Deus deu-lhes quase tudo, menos doces e petróleo.
O Sábado era de Aleluia. Os nossos anfitriões não hesitaram e ofereceram-nos um almoço memorável, enquanto lá fora o granizo batia leve, levemente... mas nós não fomos ver. Pezinhos de coentrada; cabeça de porco com feijão; sarapatel; bacalhau dourado e carne fresca com batatas (assim se chama aqui o ensopado de borrego que, dantes, só era confeccionado em alturas festivas. No resto do ano, era carne de porco da salgadeira). Tudo isto regado com água cristalina, está claro.
A tarde foi de enorme expectativa pela hora do jantar que, retinente, lá veio. Eram 20 horas e uma sopa de peixe do rio, acompanhada a fatias de carpa frita, seguida de um achegan escalado ao alho e salsa, insinuou-se-nos no restaurante "Casa das Carpas", em Castelo de Vide. Para rematar, dei-lhe com tarte de castanha, não fosse o diabo tecê-las!
É claro que peixe não puxa carroça, ainda por cima depois de uma missa gelada e de uma chocalhada a correr pela vila fora, dando ao badalo até cair para o lado. Por isso, era meia-noite e dada a fraqueza que todos exibíamos, houve chouriço assado e açorda alentejana na adega do turismo rural onde ficámos ("Turimenha", 917303725, São Salvador da Aramenha)
Útima ceia? Não acredito. Quando muito é ceia móvel!
jp

4 comments:

Al Kantara said...

O meu conselho é que não penses em medir colesterol, ácido úrico e triglicéridos antes das férias grandes...

António P. said...

Francamente Expresso,
Nós aqui por Lisboa a levar isto de jejuns e quaresmas a sério e tu na desbunda.
Não sei se é a última ceia mas que foram muitos pecados ( e dos antigos eu diria que foi a gula )lá isso foram.
Agora em Lisboa toca de ires à confissão e contares tudo so Sr. Padre.
Um abraço

Jorge Pinheiro said...

Vou ao padre fazer análises, de resto não me queixo.

Anonymous said...

excellent points and the details are more precise than somewhere else, thanks.

- Murk