O Rodrigo foi o primeiro a casar e a Eveline também. Ou seja, casaram um com o outro. Instalaram-se num moderníssimo T1 com kitchnete em Santo Amaro, no Bairro dos Sete Castelos, que passou a ser a primeira base autónoma e sustentada para todo o grupo.
Antes disso tínhamos a casa do Paulo, ou melhor, dos pais do Paulo. Hoje sinto-me uma espécie de "pais do Paulo" com as bandas dos meus filhos e respectivos groupies instalados permanentemente cá por casa, sendo que há trinta anos não era nada fácil ser "pais do Paulo".
Era naquela cave-garagem para onde se entrava por um empedrado preto e branco representando a "Árvore da Vida", que se tocava e charrava diariamente. Marmelava-se sempre que elas deixavam, todos ao molho num sofá coxo inventando a nossa própria adolescência.
As noites passavam-se na casa do Rodrigo com a tribo reduzida ao núcleo duro, entremeando joints com guitarradas, enquanto circulava uma banda desenhada feita colectivamente, em que o "Sr. Bulov" era personagem central e o humor ganzado da revista "Mad" estava presente. Também havia quem, no meio de toda aquela agitação, tricotasse camisolas de malha multicolores que, com o peso, chegavam até aos pés ou quem construísse abajures freaks para candeeiros de meditação transcendental. Todos traçando planos marados para futuros incertos… Serões em família!
O nome da banda "Ephedra" não foi fácil, nem consensual. Depois das habituais listas, discussões e votações, triunfou o nome derivado de um xarope para a tosse à base de ephedrina e ipecacuanha que alguém tinha lá por casa. Mal sabíamos nós que a planta ephedra é um poderoso estupefaciente que chegou a ser, erroneamente, identificado com o mítico "soma" védico. E foi assim que nasceu um grupo de superstars em busca de um outro eu. Primitivo-futuristas sem sossego!
Depois entrámos a ler Aldous Huxley e ficámos espantados por alguém ter descoberto o mesmo que nós três décadas atrás. Devorámos aqueles livros, hoje intragáveis, com respeito quase religioso: "Doors of Perception", "Sem Olhos em Gaza", "Também o Cisne Morre", "O Admirável Mundo Novo" e, claro, "A Ilha".
Víamos à desgarrada filmes do Ingmar Bergen e Orson Wells, à tarde, nas sessões clássicas do Monumental. Godard e Trouffaut, no "Estúdio" do velho Império. "2001, Odisseia no Espaço", onde quer que fosse.
Foi por essa altura que descobri "Margarita e o Mestre", do Mikhail Bulgakov, livro que ainda hoje leio compulsivamente de dois em dois anos e que começa com aquela frase perturbadora extraída do "Fausto", de Goethe:
"- Quem és tu, então?”
“- Parte daquela força que eternamente deseja o mal e eternamente cria o bem", diz o Diabo.
Antes disso tínhamos a casa do Paulo, ou melhor, dos pais do Paulo. Hoje sinto-me uma espécie de "pais do Paulo" com as bandas dos meus filhos e respectivos groupies instalados permanentemente cá por casa, sendo que há trinta anos não era nada fácil ser "pais do Paulo".
Era naquela cave-garagem para onde se entrava por um empedrado preto e branco representando a "Árvore da Vida", que se tocava e charrava diariamente. Marmelava-se sempre que elas deixavam, todos ao molho num sofá coxo inventando a nossa própria adolescência.
As noites passavam-se na casa do Rodrigo com a tribo reduzida ao núcleo duro, entremeando joints com guitarradas, enquanto circulava uma banda desenhada feita colectivamente, em que o "Sr. Bulov" era personagem central e o humor ganzado da revista "Mad" estava presente. Também havia quem, no meio de toda aquela agitação, tricotasse camisolas de malha multicolores que, com o peso, chegavam até aos pés ou quem construísse abajures freaks para candeeiros de meditação transcendental. Todos traçando planos marados para futuros incertos… Serões em família!
O nome da banda "Ephedra" não foi fácil, nem consensual. Depois das habituais listas, discussões e votações, triunfou o nome derivado de um xarope para a tosse à base de ephedrina e ipecacuanha que alguém tinha lá por casa. Mal sabíamos nós que a planta ephedra é um poderoso estupefaciente que chegou a ser, erroneamente, identificado com o mítico "soma" védico. E foi assim que nasceu um grupo de superstars em busca de um outro eu. Primitivo-futuristas sem sossego!
Depois entrámos a ler Aldous Huxley e ficámos espantados por alguém ter descoberto o mesmo que nós três décadas atrás. Devorámos aqueles livros, hoje intragáveis, com respeito quase religioso: "Doors of Perception", "Sem Olhos em Gaza", "Também o Cisne Morre", "O Admirável Mundo Novo" e, claro, "A Ilha".
Víamos à desgarrada filmes do Ingmar Bergen e Orson Wells, à tarde, nas sessões clássicas do Monumental. Godard e Trouffaut, no "Estúdio" do velho Império. "2001, Odisseia no Espaço", onde quer que fosse.
Foi por essa altura que descobri "Margarita e o Mestre", do Mikhail Bulgakov, livro que ainda hoje leio compulsivamente de dois em dois anos e que começa com aquela frase perturbadora extraída do "Fausto", de Goethe:
"- Quem és tu, então?”
“- Parte daquela força que eternamente deseja o mal e eternamente cria o bem", diz o Diabo.
jp
Fotografia de José Maria Tavares Rosa
6 comments:
O Huxley ainda hoje é muito "tragável" meu caro...
Ephedra é um género de arbustos, pertencentes às Gnetófitas, único na classe Ephedraceae e ordem Ephedrales. Seu uso medicinal está documentado desde há cinco mil anos na China, onde esta erva é conhecida pelo nome ma huang. Os colonizadores adeptos a religião mórmon nos Estados Unidos conheceram seu uso ao estabelecerem contato com povos indígenas dos ute (ver Utah). Estas plantas ocorrem em climas áridos, numa vasta área que inclui a Europa, Norte de África, Ásia central e sudoeste, América do Norte e do Sul. São conhecidas variadas aplicações medicinais, principalmente devido ao facto de concentrar grandes quantidades de efedrina.
As suas propriedades são usadas na preparação de produtos dietéticos de redução de apetite, e podem causar efeitos secundários graves. Presentemente, o uso de extractos de Ephedra está proibido nos Estados Unidos da América.
Agora percebo porque é que os "Ephedra" são todos fininhos...
Já para não falar da efedrina como base para a síntese da metanfetamina, uma das drogas de abuso mais viciantes e nefastas que está arrasar os Estados Unidos. Provavelmente, a proibição de uso de extractos de ephedra está mais ligada a este facto que a efeitos secundários propriamente ditos...
Não é essa a que chamam PCP? (leia-se picipi, no original do CSI)
Essa é outra. A imaginação dos químicos é vasta...
O que nós não sabíamos na altura!!!
Quer dizer que o nome lançado agora tem grandes hipóteses de triunfar nos USA...!
O Huxley é tragável, mas só com muita ephedrina!
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