4.5.08

MÁSCARA IBÉRICA - DESFILE



No norte de Portugal, em especial no nordeste transmontano, bem como em Espanha, na Galiza e Leon, mantiveram-se, ao longo de séculos, tradições relacionadas com os rituais da puberdade, do solstício ou das bacanais romanas. Estas tradições e mitos pagãos mantêm-se, embora nem sempre se saiba o que se anda a fazer. Corre-se mesmo o risco de transformar rituais sagrados em eventos turísticos e em breve chegaremos ao "Corso dos Caretos", desfilando num qualquer "sambódromo" de ocasião. Foi o recente caso do desfile na Baixa Pombalina de Lisboa. “Ranchos de Caretos” e de "Zés Pereiras" que enfeitiçaram os lisboetas e demais turistas acidentais pela cor e exuberância transmitidos, mas que nada deixaram da realidade mágica que lhes subjaz.
jp

7 comments:

Anonymous said...

Qualquer demonstração que se realize fora dos seus contextos originários ficará sempre áquem, sendo isso uma constatação óbvia. Mas nao sendo esse o propósito, segundo o meu ponto de vista, que se pretende com este tipo de evento, será uma mais valia na divulgação e valorização da tradição popular bem como de uma partilha de um bem de património imaterial pouco conhecido pela maioria. Apelando para a existência destas realidades e suscitando curiosidade pela temática, o que, penso, reverterá a favor não só das próprias regiões e grupos como também no melhoramento da oferta de cultura de qualidade.
Penso que as amarras subjacentes a um pensamento elitista de que a cultura, seja ela etnográfica ou não, deveria ser resguardada e mantida numa redoma, deverão ser libertadas de uma vez por todas.
Iniciativas deste tipo inserem-se adequadamente no perfil proposto pela UNESCO,no âmbito do ano europeu do diálogo intercultural, daí terem toda a viabilidade de prossecução.

Jorge Pinheiro said...

Não posso estar mais de acordo.
Ainda bem que o meu post suscitou esse comentário.

Anonymous said...

Não sei se sabem, mas estes rituais estão a deixar de existir,estes rituais que iam passando de pais para filhos, estão a extinguirem-se porque as origens e os rituais existem em regiões do interior, onde existe cada menos jovens para as poder festejar. Porque vão procurar melhor qualidade de vida fora da própria terra. Desde de a algum tempo para cá, existiram alguns estudos, alguns livros que nos falam sobre o assunto, como por exemplo “ A máscara Ibérica” Vol 1 que esta a venda nas livrarias já a uns 3 anos, que eu pensava já estar esgotado, mas ainda vi a venda no rossio, que retrata toda a magia que existe em cada um dos rituais. O facto da sociedade ter a possibilidade de ver que ainda existe este tipo de cerimoniais em Portugal, ou Espanha através de pessoas originais, com mascaras originais, que se vestem de alma e coração e se dão ao trabalho de percorrerem centenas de kilometros para nos mostrarem um pouco do que é a terra deles, isso vale tudo. Não concordo contigo JP eu estive lá e quando passava um novo grupo por mim, eu conseguia sentir a magia de cada um deles. Conseguia olhar para um grupo que para alem de trazerem aquelas mascaras, traziam o orgulho de uma terra que afinal não estava esquecida no meio do nada .

Jorge Pinheiro said...

Meu caro anónimo, isto de se falar virtualmente tem vantagens e desvantagens. No caso são desvantagens. Acontece que sou de ascendência totalmente brigantina e sempre fui um apaixonado por estas questões. Quer do ponto de vista antropológico, quer pelos resquícios de paganismo que muito deixam perceber da cultura daquela gente, quer pelos aspectos mágicos e simbólicos associados. Aíás,sobre este último aspecto já várias vezes aqui falei em posts anteriores. Portanto, sem querer pôr em causa o que por ti foi referido, com que concordo, falta um enquadramento nestes últimos aspectos. O meu receio é apenas que se transforme essa realidade quase mística, numa mera expressão folclórica.

miamai said...

Qualquer demonstração que se realize fora dos seus contextos originários ficará sempre áquem, sendo isso uma constatação óbvia. Mas nao sendo esse o propósito, segundo o meu ponto de vista, que se pretende com este tipo de evento, será uma mais valia na divulgação e valorização da tradição popular bem como de uma partilha de um bem de património imaterial pouco conhecido pela maioria. Apelando para a existência destas realidades e suscitando curiosidade pela temática, o que, penso, reverterá a favor não só das próprias regiões e grupos como também no melhoramento da oferta de cultura de qualidade.
Penso que as amarras subjacentes a um pensamento elitista de que a cultura, seja ela etnográfica ou não, deveria ser resguardada e mantida numa redoma, deverão ser libertadas de uma vez por todas.
Iniciativas deste tipo inserem-se adequadamente no perfil proposto pela UNESCO,no âmbito do ano europeu do diálogo intercultural, daí terem toda a viabilidade de prossecução.

Anonymous said...

Fala em virtualmente, mas a verdade é que se estão a extinguir este tipo de rituais, festas, cerimonias, não só porque a maioria das pessoas não as conhece, como não estão dispostas a ler e a descobrir o que Portugal tem de mais genuíno. O que fazer? Deixar morrer as tradições? Ou apenas dar a conhece-las ao nosso Portugal, como sendo uma coisa para não esquecer, ou melhor, uma coisa a reaprender ??? Como podemos fazer isso? Com livros? Indo aos locais? A realidade de quem não conhece esta cultura, é uma realidade triste, eles não conhecem e apenas só a passam a conhecer se houver alguém que a coloque a frente dos olhos. Acha mesmo, que um desfile por ano, o vai transformar essa realidade quase mística, numa mera expressão folclórica? Eu só não acho, como dou os parabéns, ainda, a quem se preocupe em trazer a capital, esta nossa cultura e que mostre a todos que afinal, Portugal não é só sol e mar…

Jorge Pinheiro said...

Reconheço valor aos argumentos apresentados. Talvez que a minha apreciação seja excessivamente centrada num conjunto de questões muito específicas que só a uma minoria interessem. Sugiro apenas que,paralelamente, seja dada uma informação mais ajustada e esclarecedora. A maioria das pessoas não perceberam nada. Mas, atenção, eu gostei. O meu post não é crítico!