Oeiras mudou muito e mudou depressa. Pela sua localização, a meio caminho entre Lisboa e Cascais, estava fadada para ser "a cidade do futuro".
Mas, nem sempre foi assim. Em meados do séc. XIX, Oeiras era um povoação terrestre. A costa passava a 2 km do centro da vila que se alongava ao longo da estrada de Lisboa para Cascais, com uma malha de ruas estreitas entre a Cruz de Oeiras e o aqueduto que abastece o chafariz do Marquês. A Rua Direita tem hoje o nome de Cândido dos Reis. O Largo do Egipto, com o seu palácio e jardins, hoje em recuperação para futuras actividades culturais de incerto destino, era contíguo ao Largo da Igreja (hoje Largo 5 de Outubro) e a Calçada e Santo Amaro (hoje Rua José Teixeira Simões) fazia a ligação, por uma tortuosa azinhaga, entre o centro da vila e a praia. A vila não teria, então, mais de 5 000 habitantes. O desenvolvimento perspectivado pelo Marquês não chegou a vir e Oeiras manteve-se rural e saloia.
Santo Amaro nasce no começo do séc. XX. O apeadeiro do caminho e ferro é o mais recente da Linha. A praia entrava pelas terras dentro. Não havia Avenida Marginal. Não havia o chamado "barracão", onde a familia Orey passava férias e que eu ainda bem conheci (nesses terrenos está hoje implantado a urbanização da SPOC, fronteira ao mar). Nem existia o jardim de Oeiras, onde se ergue agora ufano o globalizado "McDonald's". Após a inauguração do caminho de ferro, bandos de banhistas assaltaram a praia de Sabto Amaro. O apeadeiro veio ainda dar mais alento a essa gente sedenta de mar e que tinha no banheiro Pereira o seu expoente máximo. Aqui os banhistas sempre foram da burguesia, sem pretenções. Nunca aqui houve "nobres" a banhos!
Apareceram, então, os primeiros "courts de tennis" num parque junto à ribeira, bem como a ADO, com o seu ringue de patinagem. Construíu-se um hotel todo virado ao mar, com um casino ao lado, o Éden Casino.
Por volta de 1870 Oeiras tinha 2 fábricas: a Fábrica de Papel (na descida de Nova Oeiras para a vila) e a Fiandeira (lanifícios), na Rua de S. Pedro do Arieiro. Até 1889 (data da inauguração do caminho de ferro), o único meio de transporte eram os carros do José Florindo, de tracção animal, onde as pessoas se apertavam até caber, e que faziam a ligação até Belém, onde se apanhava o "americano" para Lisboa.
A partir de 1873 apareceram várias sociedades recreativas populares. Primeiro foi a "Guerrilha do Baltasar". Em 1909 o "Solidó do Salvador" e, por volta de 1940, "Os Carecas", com fins de beneficiência e e educação. Em 1906 foi fundado um dos primeiros clubes de futebol do pais, o "Oeiras Foot-ball Club".
No sítio onde hoje fica o Auditório Eunice Muñoz (antigo Cine-Oeiras) havia um barracão desconfortável onde, no Verão, havia teatro amador, ocasionalmente. Existiu também o "Teatro Taborda", propriedade de José Florindo que, igualmente ocasionalmente, tinha teatro de Verão. Acabou demolido em 1930, dando lugar a uma carvoaria (e que ainda hoje existe)!
Apesar de todo este aparente bulício cultural, a verdade é que ontem, como hoje, estranhamente nada se passa no centro da vila depois das 23 horas. Será estigma? Maldição do Marquês? Ou será que não sabem? A propósito, leia-se a descrição do livro "Memórias da Linha de Casais", a páginas 187, in fine, escrito em 1943: "Nem ontem, nem hoje se fez ou se faz vida nocturna em Oeiras. Às 23 reina nas ruas a calma das horas mortas. No Inverno a vila mergulha ainda mais fundamente na modorra".
jp
Os textos publicados sobre Oeiras tiveram por base artigos do Dr. Jorge Miranda, grande interessado e historiador da vila de Oeiras, que integra a "Associação Cultural Espaço e Memória", cujo contributo cultural para a vila é de enaltecer e cujo site fica hoje linkado. Igualmente me socorri, do livro "Memórias da Linha e Cascais", de Branca de Gonta Colaço e Maria Archer.
1 comment:
o teatro taborda nasceu em outubro de 1884.
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