3.6.08

HÁ DIAS ASSIM

Naquele dia levantou-se como se estivesse só. O mundo lá fora não existia mais. Acabara o frenesim, o ruído, a guerra, a paz. Não havia gente. As casas estavam vazias. As ruas desertas. Acabara tudo. O vento desistira de assobiar. As nuvens, estáticas, viam o Sol parado no ocaso permanente. Sentou-se na cama. Gritou alto. Ninguém ouviu. Não havia ninguém para ouvir. Uma raiva imensa apoderou-se dele. Porque tinham todos partido? Porque ficara esquecido? Chorou de fúria. Gritou de novo. O eco devolveu-lhe uma solidão impenetrável. Lentamente ergueu-se. A luz não acendia. Nas torneiras a água não corria. Desceu quase em pânico. A escada rangia sob os seus pés num lamento surdo. Lá fora mantinha-se um silêncio de morte. Reparou que os pássaros não cantavam. Que os cães não ladravam. Reparou que nada se mexia. As folhas das árvores jaziam no chão moribundas. Era Outono em pleno Verão. Sem rumo, saiu de casa. Ninguém. Nada. Não havia o mais pequeno movimento. As pernas não pareciam suas. Andava sem se mexer. Estava parado em andamento. Ao longe um horizonte obscuro olhava-o com indiferença. A vida já não morava ali. A vida deixara-o para trás. De repente reparou que não acreditava em nada. Que não tinha fé em coisa alguma. Que a esperança há muito morrera. Jazia inerte sem vontade. Perdera-se sem regresso.
Há dias assim. Dias vazios que acordam cinzentos. Dias de dúvida e incerteza. Dias sem existência. Há dias assim!
jp

1 comment:

Jorge Pinheiro said...

O Sol já brilha.