Em 1489, quando da viagem de Vasco da Gama à Índia, já os Açores tinham 50 anos de povoamento. Planeada urbanisticamente pelo 1º capitão-donatário, João Vaz Corte-Real, as ruas principais de Angra eram então as ruas do Pisão, da Garoupinha, do Galo, do Santo Espírito e das Alcaçarias. Ruas que acompanhavam a Ribeira dos Moinhos (hoje encanada e subterrânea) que vinha lá do alto onde se situava o castelo medieval e onde agora está erigido o Pico da Memória, em homenagem a D. Pedro IV que, como é evidente, era maçon.
No séc. XV surgiram as ruas Direita, de São João, da Palha e a Carreira de Cavalos. A Praça, junto à Câmara (hoje Praça Velha) tornou-se o principal centro. A Matriz de S. Salvador foi construída no local onde está hoje a Sé de Angra. Perto da antiga fortaleza medieval, fica a residência dos capitães-donatários (onde hoje funciona a Secretaria Regional da Saúde) e, mais abaixo, o Paço Real de D. António, prior do Crato, que aqui fez sua capital aquando da resistência ao domínio filipino (de 1581 a 1583). Esse palácio foi, depois morada dos capitâes-generais, quando terminou o regime dos donatários (D. Pedro IV) e é hoje usado pelo Governo Regional que ocupa uma parte, ficando a restante para recepções, concertos e acolhimento de visitantes oficiais.
A Terra dos Bacalhaus (o principal feito marítimo dos portugueses) foi descoberta em 1452, saindo a expedição da Terceira. Há dúvidas se foi João Vaz Corte-Real ou o filho, Gaspar, mas a descoberta ficou, sem dúvida, em família. O bacalhau não, felizmente para todos os portugueses que, assim, mantêm uma gratificante sensação de império cada vez que comem bacalhau com batatas!
Em 1567 chega mesmo a haver uma tentativa de colonização de Terra Nova e Labrador com gente da Terceira e a doacção da capitania da Terra Nova a Manuel Corte-Real, por carte régia de 1574. Durou pouco. Os ingleses rapidamente se apoderaram do território, embora ainda hoje não saibam cozinhar bacalhau. É um caso típico de injustiça colonial!
A Terceira sempre dispôs de importantes estaleiros navais. Era uma base importante para as viagens marítimas. Um centro de reparação e abastecimento das naus. Porta de saída para as viagens para ocidente e porto seguro para os navios que regressavam da África e da Índia fazendo a volta do largo ou "volta do sargaço", aproveitando os ventos alíseos.
O porto (a "angra") é acolhedor e bem protegido pela mole imensa do Monte Brasil. O porto está ladeado por duas fortalezas. À esquerda, de quem está virado para o mar, o forte de S. Sebastião. Forte português, hoje conhecido por "castelinho" por comparação com o forte de S. Filipe, à direita (hoje de São João Baptista), cuja construção se iniciou no período filipino e que é o segundo maior do mundo hispânico. Curiosamente, os seus canhões estão apontados para terra, talvez com medo que Violante do Canto (a "padeira de Aljubarrota" local) lhes fosse aos fagotes!
A cidade é, provavelmente, a mais cosmopolita do arquipélago. Quis resistir ao domínio filipino e foi capital de um reino fantasma. Daqui saiu D. Pedro IV, com as suas tropas, para implantar o regime liberal no continente, na luta fratícida que o opôs ao irmão Miguel. Em 1980 um terramoto de magnitude 7 na escala de Richter, destruíu por completo a cidade. Reconstruída em tempo record, Angra é hoje património mundial da UNESCO. É Angra do Heroísmo!
jp
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