Em Portugal, naquele tempo, o Luís Represas ainda não era ninguém. O Fernando Girão, "aquela máquina", ainda se chamava Very Nice e, à força, queria ser nosso vocalista. O Rui Veloso devia andar lá pelo Porto a tentar os "blues" da Cantareira. O Abrunhosa era, felizmente, uma miragem. O Tim "pontapé" ainda não desafinava em público. O "Conjunto Mistério", que actuava de mascarilhas, e os "Sheiks", do Fernando Tordo, já se tinham esgotado nas bôites de Albufeira. Os "Beatnicks" eram apenas rocalhada. O "Quarteto 1111" afoleirava tudo o que podia e o José Cid já era o egocêntrico piroso que todos conhecem. O "Objectivo", do Kevin Hoidale e do Mike Seargent, era uma instituição tipo "Xutos" de hoje: uns cotas com mais dez anos que nós. O "Quinteto Académico + 2", com o Mike Carr, no fabuloso Hammond, e o "+ 2", um preto vocalista de R.B., ambos expressamente importados das ilhas britânicas, faziam o pleno nos bailes de finalistas, com covers quase perfeitos... Os “Festivais da Canção” ouviam-se expressamente para dizer mal.
Em 1970, os novos grupos tinham nomes indianos, árabes e greco-romanos: "Kama Sutra"; "Annangarranga"; "Tantra"; "Arazen"; "Petrus Castrus" e, claro, "Ephedra". Alguns mantinham-se mais tradicionais, como "Heavy Metal" ou "Renovação". Parece que também havia novos grupos lá pelo Porto. A comunicação era difícil… A A1 só ficou pronta vinte anos depois!
Também por essa altura surgiu o Jorge Lima Barreto. A primeira vez que o vi foi num espectáculo demolidor em que, sozinho, tentava destruir uma bateria a pontapé.
Depois fundou o duo "Anar Band" (mais tarde "Telectu"). O J. L. B. enfiava cartões perfurados, tipo "eprom", num computador medieval que, por sua vez accionava as teclas um de "pianómetro", enquanto ele, com ar intelectual, se despenhava de cotovelos em cima do impotente instrumento. O outro membro do duo era um tal Reininho (depois substituído pelo Vitor Rua, por razões que só os membros poderão explicar). O Reininho manipulava uma viola de dois canos no que ele chamava, sem modéstia, "estilo rock-progressivo alemão”?!
Admiro imenso o J.L.B. Homem de convicções, eterno musicólogo-anarquista que se mantém coerentemente inaudível e ilegível. É muito mais difícil tocar não-música durante trinta anos, do que fazer trinta anos de música audível, seja de que tipo for!
Naquele tempo o Vitorino já se pavoneava com a eterna boininha preta, tropeçando Chiado acima, saído da Leitaria Garrett, depois de tentar engatar todas as miúdas de Belas Artes, com esforçado sotaque alentejano. O irmão ainda pastava lá pelo Redondo.
O Sérgio Godinho ouvia-se "com brilhozinho nos olhos", em especial no álbum "Sobreviventes".
O Zeca Afonso quase podia ser mau se não fosse bom! Ouvia-se em ambientes restritos e muito específicos… Voltaremos a ele mais à frente.
Os baladeiros estavam, felizmente, ainda escondidos debaixo das pedras filosofais… Pena não terem lá ficado!
Em 1970, os novos grupos tinham nomes indianos, árabes e greco-romanos: "Kama Sutra"; "Annangarranga"; "Tantra"; "Arazen"; "Petrus Castrus" e, claro, "Ephedra". Alguns mantinham-se mais tradicionais, como "Heavy Metal" ou "Renovação". Parece que também havia novos grupos lá pelo Porto. A comunicação era difícil… A A1 só ficou pronta vinte anos depois!
Também por essa altura surgiu o Jorge Lima Barreto. A primeira vez que o vi foi num espectáculo demolidor em que, sozinho, tentava destruir uma bateria a pontapé.
Depois fundou o duo "Anar Band" (mais tarde "Telectu"). O J. L. B. enfiava cartões perfurados, tipo "eprom", num computador medieval que, por sua vez accionava as teclas um de "pianómetro", enquanto ele, com ar intelectual, se despenhava de cotovelos em cima do impotente instrumento. O outro membro do duo era um tal Reininho (depois substituído pelo Vitor Rua, por razões que só os membros poderão explicar). O Reininho manipulava uma viola de dois canos no que ele chamava, sem modéstia, "estilo rock-progressivo alemão”?!
Admiro imenso o J.L.B. Homem de convicções, eterno musicólogo-anarquista que se mantém coerentemente inaudível e ilegível. É muito mais difícil tocar não-música durante trinta anos, do que fazer trinta anos de música audível, seja de que tipo for!
Naquele tempo o Vitorino já se pavoneava com a eterna boininha preta, tropeçando Chiado acima, saído da Leitaria Garrett, depois de tentar engatar todas as miúdas de Belas Artes, com esforçado sotaque alentejano. O irmão ainda pastava lá pelo Redondo.
O Sérgio Godinho ouvia-se "com brilhozinho nos olhos", em especial no álbum "Sobreviventes".
O Zeca Afonso quase podia ser mau se não fosse bom! Ouvia-se em ambientes restritos e muito específicos… Voltaremos a ele mais à frente.
Os baladeiros estavam, felizmente, ainda escondidos debaixo das pedras filosofais… Pena não terem lá ficado!
jp
Episódio nº10 de "Filhos do Povo do Sul - Memórias de uma Banda Rock dos Anos 70", livro que estou a publicar on-line. Na foto pode ver-se, da esquerda para a direita, Zé Eduardo, Paulo de Carvalho, Emílio Robalo e João Heitor.
7 comments:
Gostei muito de reencontrar o Emílio o João Heitor é que não lhe ponho a vista há décadas.
Nunca percebi a admiração e a fama que aufere esse traste que dá pelo nome de Jorge L. Barreto. Talvez só num país como o nosso. Fazer "não música" é fácil quando se tem a sensibilidade musical de uma porta e a "lata" de um desesperado. Conheci-o num festival de jazz de Cascais onde ele ia "tocar" a solo e estava à rasca. Foi muito solícito e simpático. Mais tarde num outro festival e já com o amiguinho Reininho, julgando-se uma grande estrela, fingiu que não me conhecia e foi calmamente desatar à bofetada a um piano Steinway de 1/4 de cauda (com os tais cartões perfurados na estante a fingir que eram partituras de música contemporânea) deixando-o irremediávelmente inutilizável para os pianistas que se seguiam. Enfim, o "lobby gay" no seu melhor.
Obrigado pelo complemento, Ortega.
Claire: não foste outro dia ao Xico? Estava lá o Emílio a tocar piano!
Ortega, cuidado. Olha que os 3 especialistas de música contemporânea que conseguiram ouvir sem adormecer a "integral" dos Telectu podem não concordar contigo. O próprio JLB, doutorado em Musicologia e Teoria da Comunicação, apesar de não saber tocar coisa nenhuma, já tocou com grandes nomes da música contemporânea internacional. Já agora, oh Expresso, o substituto do Reininho chama-se Vítor Rua e não Vítor Ruas. (Que falta de respeito, nem com os nomes acertam...) O Reininho deve ter sido substituído porque queria cantar as dunas e o JLB não acertava nos acordes...
Agora imagina o que deve ser esse personagem JLB a "tocar" com outro iluminado, Emanuel Nunes, as Litanies du Feu et de la Mer...
Claire: é melhor não quereres saber o que se passa com o João Heitor.
Alkantara: Eu sei no que é que o J.L."Barrete" é doutorado mas não posso dizer. Não fosse ele "morcão" e ninguém falava dele.
Ainda que todos perceberam este post. Obrigado pela animada troca de sensações!
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