CRÓNICAS DE FÉRIAS - UM NÃO RESTAURANTE

E choveu mesmo! Uma manhã desconsolada que hesita entre a ventania continuada e a chuva que, embora tímida, é sempre molhada. Vamos a Vila do Bispo almoçar. O “Café Correia” há muito desenvolveu o conceito base do “El Bulli” (considerado o melhor restaurante do mundo): quanto mais tempo fechado, mais clientela acumulada (este princípio não deve, porém, ser levado ao infinito).
O “Café Correia” está fechado aos Sábados, precisamente o dia de maior afluência. A cozinha fecha impreterivelmente às 14,30h. Às
14h já a D. Lilita está a despachar bandos de espanhóis, com antecipação cautelar. A cozinha fecha daqui a meia hora, mas já começou a fechar…!
Lá dentro espera-nos o camarão guisado com batatas cozidas; as lulas recheadas, a cabidela de frango; a tarte de alfarroba… Tudo absolutamente óptimo. E esse é que é o problema!
“Ó D. Lilita, um dia destes temos que cá vir com uns amigos”. “Nã faça isso. Nã traga amigues. Dêxe lá os amigues em paz. Vênham sozinhues. Nã vê que nã tenhe mêsa. Onde é quê os sento? Já aqui tenhe gente que chegue!”
Este é o espírito de um não restaurante. Nada de pressas. O relógio fica lá fora. O conceito de “slow food” existe em Vila do Bispo há décadas. Não há filas de espera porque não existe o conceito de esperar. Quem tem pressa é imediatamente amesquinhado, maltratado e corrido. O restaurante fica assim agradavelmente vazio e acaba por não se esperar muito. “Café Correia”, provavelmente um dos poucos sítios sossegados deste Allgarve. A nã perder!

jp