Em Portugal a rede de caminhos para Compostela estava por todo o lado, mas era mais desenvolvida nas regiões de maior densidade populacional: Lisboa, Santarém, Coimbra, Entre Douro e Minho. Como curiosidade, de Lisboa ao Porto levava-se, então, uma semana! Os peregrinos eram apoiados por locais de descanso, casas de pasto, albergarias e hospitais. Uma verdadeira rede turística que potenciava o desenvolvimento de forma sustentada (diríamos nós hoje). É também por isso que os santos são importantes. Um milagre é quase sempre económico!
Reis e grandes senhores usavam o direito à aposentadoria, aboletando-se em casas particulares e recusando-se a pagar a "hospitalidade". Nas cortes de Lisboa de 1439, foi decidido criar estalagens em todas as cidades e vilas muradas que estivessem na rota de Compostela, para obviar abusos. Mais desenvolvimento...!
SANTIAGO DA GUARDA (ver na foto Residência Senhorial dos Condes de Castelo Melhor, que funcionou como albergaria) está situada no troço do Caminho Português que percorre Santarém-Leiria-Coimbra. Saindo de Tomar segue-se por Pereiro, depois Alvaiázere, Maçãs do Caminho, Almoster e Ansião. Aqui atravessamos uma pequena ponte medieval de onde parte uma rua com o nome da Rainha Santa Isabel. Voltamos à estrada e perto de Vila de Boi encontramos os vestígios de uma calçada romana. Entramos em Santiago da Guarda.
O Solar dos Condes de Castelo Melhor, hoje excelentemente recuperado pela Câmara de Ansião, merece uma visita expressa. Por baixo do Solar foi descoberta uma importante villa "tardo-romana", do séculos IV d.C, cuja parte urbana teria cerca de 1200m2. Pavimentos musivos de rara beleza estão agora visíveis, protegidos por um chão de vidro que nos permite circular por toda a villa. Já do período medieval, a torre que integrava a linha de defesa a sul do Mondego, nos tempos a reconquista cristã, é agora visitável através de uma estrutura de escadas metálicas de arrojada concepção e vertigem garantida. A não perder!
Quanto aos Caminhos de Santiago, parece que há seis rotas principais, mas o verdadeiro Caminho é o que nasce à porta de cada um de nós. É bom que continuem a existir locais de peregrinação. Mesmo que não se encontre Deus, pode ser que nos encontremos a nós, o que, provavelmente, é a mesma coisa!
jp
2 comments:
Já havia cruzado o caminho dos peregrinos que iam a Compostela quando estive no Maciço Central, aqui na França.
Nestes dias encontrei do outro lado do país, na Alsácia, fronteira com a Alemanha, uma outra referência indicando que fazia parte do caminho para Cempostela. Realmente é uma malha enorme de caminhos em toda a Europa.
Abraços.
Maria Augusta: é de facto impressionante. Em Portugal está a ser demarcado o itinerário principal. No Minho (confinante com a Galiza) penso que já está feito.
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