Você vai na praia desprevenido. De repente já comprou uns óculos de sol que lhe ficam a matar. A ostra até que está barata. Mas às 9 da manhã prefiro lagosta. Dez reais com limão. O Nelson dos Cocos está parado em êxtase tropical no meio da praia olhando o infinito. O queijinho assado passa na brasa. O homem do bloqueador vai apregoando “Até bronzeia o pensamento”. Cocada de leite condensado? Milho verdinho? Doce de carambola?... Porque não?! O Nelson dos Cocos acorda subitamente agitado e atira-se em movimento acelerado numa perigosa tangente aos chapéus-de-sol. Bonés, camisetas… Já agora levo um par de colares e uns brincos. Fazem sempre falta. Meio-dia. Sai um ensopado de siri e uns pastelinhos de camarão. Passam atoalhados e redes, saídas de praia e sacos de sisal. Madrepérolas e sementes de açaí em cores ofuscantes. Avança um carrinho de mão com autofalante incorporado desbravando a praia em alturas de forró. Discos escaldantes no calor do equador. No arrasto vêm três guitarristas vestidos e cowboy-gaúcho em melodia de frevo. Mariachis da areia em braços empenados no rap pernambucano. Mais óculos… Agora não! Talvez um picolé ou caju assado. Hesito! Passa o queijinho outra vez na brasa. O Nelson dos Cocos começa a abrandar procurando o infinito que teima em lhe escapar. Vai uma irresistível porção de camarão à milanesa. Remata-se com um caldo de cana-de-açúcar. Calorias em estado puro. Diabetes garantidos. “Bolinhos de macaxeira com frango ou bacalhau. Sou o Luciano!”. “Pois é, Luciano… agora não vai mesmo mais nada”. “Então volto amanhã”. O Luciano abafa na palhinha e, presume-se, amanhã também. O Nelson dos Cocos paralisa definitivamente, acometido por uma súbita letargia que sobre ele se abate com intensidade transcendental. Num carrinho encarnado, muito fininho, vem o doce japonês, conhecido por “quebra-queixo”. Resisti! Volta na brasa o queijinho…
Lá ao fundo o mar espreita convidativo. Quero tomar banho. Temos de nos despachar. São 4 da tarde e ainda não almoçámos...!
jp
Lá ao fundo o mar espreita convidativo. Quero tomar banho. Temos de nos despachar. São 4 da tarde e ainda não almoçámos...!
jp
2 comments:
JORGE
Bem sabe como, entre coisas várias suas, admiro estas estórias. Esta é narrada num ritmo alucinante.
Mais uma página riquíssima para outro "TURISTA OCIDENTAL" !
E eu ainda agora acordei e já estou com uma fome !...
Post a Comment