30.1.09

UM DIA PARA ESQUECER I

Uma noite passada num jantar de amigos a escalpelizar o efeito da história do Bambi nos traumas de infância. Deitar tarde. A cabeça em enxaqueca acorda de manhãzinha a implorar aspirinas. Tropeço nos chinelos. Não sei das aspirinas. Volto para a cama. Cabeça a latejar. Viro-me e reviro-me. A cabeça não pára. Toca o telemóvel. Nove e trinta. O meu filho que o carro dele lá em baixo vem agora ver 800 euros por causa do anúncio querem comprar. Pois que ele tem de ir não sei quê... Não sei! Estou muito doente. Não posso. Dói-me a tola. Deve ser do Bambi. Mas sim, qualquer coisa. Quando? Tenho de estar na Câmara às duas. Não posso. Mas ele que venha mais cedo. Viro-me. Pego no sono atormentatado. Onze e trinta. Telemóvel. Cabeça. Filho. Carro. Homem. Vender. Oportunidade. Já vou. Cabeça. Quando? Novo sono atormentado. Meio-dia. Expulsam-me da cama. Duas aspirinas um migraleve. Café duplo. Cabeça. Filho... Chega o comprador. Sai-me um cigano de um Renault Laguna, daqueles com patilhas à maneira. Daqueles a quem tu nunca comprarias um carro em segunda mão. O problema é que eu nao ia comprar... ia vender. Esta equação invertida percorreu a enxaqueca até estalar nas fontes. Mais um migraleve que aspirinas é para Bambis. Filho discute preço. Eu desconfio. E se.... e se... e se... ele não regista a propriedade? Uhm? Declarações. Fotocópias. "Ó amigo, mas está a desconfiar?". Duas horas. Telemóvel. Não já não posso ir. Reunião da Cãmara adiada. "A vareta do óleo tem água", diz o comprador, cada vez mais cigano. Pois, por mim até podia ter vinho. Sei lá o que é uma junta. E muito menos queimada. Cabeça, pum, pum pum. A chuva continua a cair. Agora também vento. Telemóvel. Sim, não, ah, pois... Era engano. "Não dou mais do que 500". Começa a meter dinheiro vivo na mão do meu filho. "Setecentos". "Mas queres que eu perca dinheiro. E os "resistos"?". Incompreensivelmente, o cigano e o meu filho começam de repente a tratar-se por "tu", como se fossem amigos de infância. "Seiscentos". E volta a contar um pacote de notas. "Não", diz o puto já quase cigano. E que sim. E que não. Mais notas contadas. Apático e abúlico contemplo a cena com alheamento paranóico. Já só quero os "resistos". Sair dali. Qualquer coisa! "Seicentos e sessenta e não se fala mais nisso". "É pá tu és bom negociador". Este o último truque para envaidecer o meu filho. Negócio fechado. Paranóia instalada: e os "resistos"?
jp

13 comments:

mjf said...

Olá!
O teu filho está pronto para a vida real que o espera ;=)
eheheh

Beijocas
Bom fim de semana

Al Kantara said...

Não trates dos "resistos" que ainda começas a receber multas da BRISA...

Anonymous said...

Se é um bom negociador não sei, mas que virou um bom tema para um post não tenho dúvidas! E a cabeça? Melhorou? Apesar do negócio?

jugioli said...

hummmmmmm!!! A bad day. Mas teve lá suas recompensas.

gosto desta expressão: "dói-me a tola", é fantástica.

JU

Anonymous said...

OK.gostei de todo este tempo em que o visitei diariamente, mas agora vou até ali ao desemprego e como diz o gerente cá do estamine e o melhor patrão.
como encontrar trabalho depois dos 45 anos e depois de trabalhar 18 nesta empresa. não ha-de ser nada.
beijinhos e continue a escrever sempre

roserouge said...

Acho bom mesmo que te livres desse carro o mais rápido possível. O problema não são só as multas da Brisa, o carro pode servir para assaltos e outros imbróglios do género...chamem-me racista, se quiserem, mas ciganos...longura!!

Jorge Pinheiro said...

MJF: tens razão. É sempre uma aprendizagem importante e um contacto com o "mundo real".
Al: pois... Como diz a Rose o pior nem são as multas. Já agora fiquem sabendo agora é possível serem os vendedores a fazer o registo. Se na 2ª não estiver, serei eu a ir à Conservatória.
Eduardo: um dia para esquecer de que sempre nos lembraremos!
Ju: é uma expressão normal neste português daqui. Ainda bem que surpreendeu.
Anónimo: uma palavra de conforto. A vida está dura, mas o Sol há-de brilhar quando este tempo horrível passar. Força e coragem. E não dá para continuar a ver o blogue? Logo agora que ia começar uma série de receitas anti-crise...
Rose: pois, mas a dor de cabeça ontem inibiu-me de raciocinar.

Isabel Magalhães said...

JP;


Imagino o que será ter vivido a 'cena'.

Como diz o outro: 'há dias de manhã em que um homem à tarde não deve sair de casa à noite'.

[]
I.

(Estava aqui a fazer contas de cabeça... euros seiscentos e sessenta a 200 'paus' cada euro... mas isso não é pouco?! Afinal, de que ano é o carro? É que o meu carro tem dez anos e, de repente, fiquei com receio de ainda ter que pagar ao futuro comprador!) ;)

Jorge Pinheiro said...

Isabel,
É assim. Se quiser trocar por um carro novo, e se o seu carro fôr de gamaa baixa e pouco valor comercial, o melhor é mandar abater o carro, desde que o faça no acto de troca por um novo. O Estado entra com 1000 € e a marca do novo ainda dá mais qq coisa.
Quanto a este caso, terá que se dizer que o carro tinha dez anos muito usados. Por exemplo, perdeu a direcção assistida, tinha várias mocadas, estofos em péssimo estado,etc, etc. Acresce que não íamos trocar por novo. Acho que dar em consultor de carros usados...

Jorge Pinheiro said...

Digo: Acho que ainda vou dar em consultor de carros usados (estou cada vez mais disléxico).

astracan said...

Bela história. Já agora podias continuar e fazer a série "Negócio de Carros Muito Usados", que ainda era capaz de fazer concorrência ao Arnaldo Rocha. Abraço.

Jorge Pinheiro said...

Vou pensar nisso.

Isabel Magalhães said...

JP;

Obrigada pela 'consultadoria'! Já estou mais tranquila. eheheheh!

Tenho d.a., a.c., bons pneus (novos), bons travões, bons estofos (os meus cães ainda não os 'comeram'...), poucos kms, revisões feitas na marca... acho que ainda dá para mais uns anos. ;)


[]

I.