A uva deu cabo disto tudo. A paisagem era linda de morrer. Vales cavados. Rios paradisíacos. Xistos brilhantes. Granitos reluzentes. Florestas virgens de juníperas, medronheiros, cerejeiras bravas, ginjeiras, sobreiros, amieiros, zambujeiros. Destruíram tudo. Um verdadeiro desastre ecológico! Socalcos.Degraus. Parapeitos. Muros de suporte. Estacas... destruiram tudo para plantar vinha. A vinha está por todo o lado. Nos sítios mais disparatados e inconcebíveis lá está uma cepa retorcida, contorsida, sofrida. Hoje o Douro está uma lástima. Um emaranhado de videiras. Um labirinto de estacas. Um monte de castas. Um horror de fermentação. Linhas paralelas. Desencontradas. Socalcos sobre socalcos. Montes devassados. Vales conspurcados. Tudo com um único propósito: fazer vinho! A coisa já tinha começado com os Romanos. Agravou-se com os Ingleses. Piorou com o monopólio da Real Companhia Velha. Fazer vinho tornou-se uma obsessão. Todos plantam, cavam, enxertam. Todos podam e sulfatam. O vinho escorre como sangue nas fisgas apertadas do granito fendido que rasgam as encostas agrestes em fracturas expostas. Nem a filoxera conseguiu acabar com isto! São pipas e mais pipas. Barricas e barricas. Tonéis sobre tonéis. Quintas sobre quintas. Adegas, bodegas e barrancos... Uma monocultura insistente e persistente que avassala com total impunidade as encostas mais inóspitas tudo devastando à sua passagem. Uma paisagem monolítica e monocórdica que se arrasta até ao horizonte e se perde nas horas redondas das curvas infinitas. Uma destruição permeditada, autorizada e concessionada. Um desastre ecológico gravíssimo... e ninguém faz nada ?!
jp
2 comments:
Fazem : bebem alegremente o vinho .
Aqui na frança também a vinha é "sagrada", ninguém diz nada e pelo contrário a consideram um patrimônio nacional...
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