6.4.09

TEMPLÁRIOS REVISITADOS - BREVE ENQUADRAMENTO DA ORDEM

GUERRA SANTA
Não serão incompatíveis as funções monásticas com as guerreiras?
O Cristianismo primitivo é representado como condenando toda a guerra e toda a violência. Apenas preconizava o amor. Nem sequer admitia a guerra defensiva!
Mas isto não é assim tão simples. Santo Agostinho, (séc. IV) foi o primeiro a defender uma teologia da “guerra justa” (a que vinga injustiças). No séc. VIII, Santo Isidoro de Sevilha, acrescentou uma precisão capital: “É justa a guerra que é feita após advertência, para recuperar ou para repelir inimigos”.
Isto irá permitir justificar as cruzadas: tratava-se de defender o único “Deus Verdadeiro” e a fé do seu povo; o guerreiro batia-se por Cristo, defendendo o cristão contra o infiel…

Da “Guerra Justa” passa-se à “Guerra Santa”, noção bem conhecida do Oriente e que continuava muito ligada à purificação, quer nas doutrinas essénias ou zoroastrianas, quer na jihad islâmica.
Aliás, a faceta mística da guerra é universal. Encontra-se também na tradição que inspirou Bodhidharma e os seus discípulos; nos Samurais; no mosteiro de Shao Lin; nos antigos Siks da Índia (os guerreiros-tigre) e nos Cavaleiros-Águia da América pré-colombiana.
As escolas de “mistérios” para guerreiros formavam-nos para a guerra interior. O seu desempenho na guerra exterior reflectia a sua disciplina interna. Um guerreiro-místico jamais participava numa guerra que considerasse indigna. Combatia por valores preferindo a morte à descura. O guerreiro é o “quinto elemento”.
Um dos primeiros poderes que um discípulo dos “mistérios” da guerra lograva atingir era a superação do medo da morte, através do exercício da vontade soberana, a força que as almas devem vencer para se libertarem dos limites da terra.
O guerreiro-místico combate em nome de um arquétipo, em nome do IDEAL. Na iniciação guerreira aprende-se a extirpar de si toda a violência, à medida que o domínio sobre todas as formas de medo aumenta. Diz uma máxima Samurai: “O homem violento é derrotado tanto na batalha como na vida”.

Tendo por base esta filosofia iniciática, podia-se doravante, em nome de Deus, levar a cabo guerras de conquista, sob a única condição de que os territórios envolvidos fossem povoados por heréticos pagãos ou infiéis. Esta concepção serviu, por exemplo, para justificar a “pseudo-cruzada” contra os Cátaros, curiosamente defendida por São Bernardo, em contradição com a neutralidade Templária e, mesmo com o acolhimento de muitos deles na Ordem (voltaremos a este tema).
Na lógica desta “Guerra Santa” era possível à Igreja “moralizar” a função de soldado, evitando que se tornassem saqueadores, violadores … Surge, assim, a Cavalaria, com o seu código de honra: aquele que era armado cavaleiro jurava bater-se apenas por causas justas e quem se desviasse do caminho era excomungado.
Eis o princípio geral da coexistência de uma sociedade religiosa e de uma sociedade guerreira: o braço que abençoa é o mesmo que mata…
jp

1 comment:

Maria Augusta said...

Cristo disse para "oferecer a outra face" a quem te agride em uma delas, Gandhi também pregou a não violência, mas é praticamente impossível não ter que lutar pelo menos para combater o que se considero injusto. O problema é que o que é justo e injusto depende dos interesses de cada um. E que a própria Igreja tenha tido um braço armado, mesmo com "códigos de cavalaria" acho aberrante, mas é só minha opinião.
Abraços e uma boa semana para você.