6.5.09

D. MANUEL I - O VENTUROSO

Pois foi este atraente rei que da varanda do Paço dos Arcos, a 5 minutos de minha casa, assistia à largada das naus para além-mar, a caminho da Índia e do Brasil.. Convivemos com locais históricos quase sem pensar nisso. E, no entanto, ele esteve lá, debruçado do varandim. Acenando solene aos capitães barbudos que de longe lhe pediam vénia. E esteve lá só porque "nasceu com o cu para a lua". O Venturoso!
Corriam os loucos anos 80 do século XV. Andava tudo excitado com o prometido casamento do Princípe Afonso de Portugal, filho de D. João II, com Isabel, a salerosa filha dos Reis Católicos de Espanha. Todos entreviam nas névoas do porvir a mesma rainha para toda a Península e um descendente, único herdeiro de todas as coroas. Uma Espanha unida. Todos estavam cansados de guerra. Finalmente, portugueses e castelhanos sentiam-se irmãos.
Os embaixadores portugueses tinham levado um retrato de Afonso, de corpo inteiro. Nos seus 15 fogosos anitos, o princípe era de apetite. Isabel, pois mais madura, de imediato pensou em brincar aos médicos com o jovem prometido. A cerimónia dos esponsais, por procuração, decorreu em Sevilha, naquele magnífico ano de 1490. Toda a cidade vibrou em festa até ao alvorecer. Em Portugal a notícia apanhou o rei em Évora. Tocaram sinos. Ouviram-se bombardas. O povo saiu à rua a dançar e a cantar. Um matrimónio desejado, quaisquer que fossem as razões políticas ocultas de ambas as partes!
As bodas haveriam de ser em Évora, já que Lisboa estava em epidemias de pestes permanentes, com alerta laranja. Seria o maior casamento de Estado de que havia memória. D. João, em pessoa, instalou-se na cidade para gerir directamente a produção do evento (um rei centralizador, indiscutivelmente). Finalmente, pode mandar chamar a noiva. Isabel chega a Elvas a 19 de Novembro de 1490. Imaginem quem a vai buscar...? O Duque de Viseu, D. Manuel, que nunca poderia pensar que, um dia, seria ele o marido daquela gentil donzela...
Vamos hoje ficar por aqui. Fiquem em suspense a sonhar com princípes e princesas!
jp

2 comments:

Li Ferreira Nhan said...

Estou adorando a história!
Então ele vivia acenando para as naus que partiam pra cá...E há 5 minutos de onde você mora...
"E esteve lá só porque nasceu com o cu para a lua".
Hummm ... tenho que tirar alguma conclusão acerca de como você nasceu???
rsrsrsrs!!!

Independente de como vocês nasceram, estou adorando ler!
Nunca imaginei que em algum "instante" da história, portugueses e castelhanos sentiram-se irmãos!!!
Adoro como você escreve; essa forma sútil, descritiva, fina e cortante como uma lâmina, com um elegante e debochado humor, é uma delícia!
Parabéns!
Ah; o termo "a salerosa" foi o máximo!
Continuo a espera dos próximos episódios.
abçs
Li

Maria Augusta said...

Jorge, este tom ao mesmo tempo romântico e irônico de contar a história é delicioso. Aguardo a continuação para entender porque ele foi chamado "O Venturoso".
Abraços.