OS TEMPLÁRIOS E OS CÁTAROSNa Idade Média, os Cátaros foram, sem dúvida, os principais representantes gnósticos no Ocidente. O seu desenvolvimento ocorreu exactamente nas zonas de maior implantação Templária: o Languedoc, principalmente, mas também a região de Champagne.
Existem relações evidentes entre o catarismo e a gnose.
O catarismo nasceu do bogomilismo, por sua vez nascido nos mosteiros da Bulgária, com origem no cristianismo primitivo, próximo das doutrinas essénias e tornado dualista pelos mitos gnósticos, no origenismo.
Por ocasião da segunda cruzada (1147), os cruzados tomaram contacto com a doutrina dualista, que trouxeram nas bagagens, implantando-se rapidamente no Languedoc.
Para isso, também terá contribuído uma certa “pré-disposição” regional, com raízes no séc. IV d.C., altura em que na região se fixou o bispo maniqueu de Hispona, Fortunato, expulso de África por Santo Agostinho (curiosamente, antigo zelador da seita maniqueísta).
Para os Cátaros, Deus não pode estar ligado à matéria, situando-se num plano incomparavelmente mais elevado; não se poderia sequer ter imiscuído na criação material, nem na encarnação das almas em corpos de carne. No entanto, para que essas almas pudessem ser salvas, criou uma emanação de si próprio para fazer uma ponte entre o Céu e a Terra: Cristo[1].
Através do Consolamentum, os cátaros pensavam dar ao homem a sua alma divina. Para muitos, o consolamentum era “o segredo de Jesus, o espirito do Graal”.
Não conhecemos a essência desse sacramento, de características iniciáticas, mas há um aspecto que pode estar relacionado com o Templo: praticava-se a cerimónia do beijo entre os crentes, como símbolo da dádiva recebida, sinal visível da corrente de amor que passava de uns para outros.
Por outro lado, na encarnação de Cristo, os Cátaros apenas viam um valor simbólico. Só poderia ter ocorrido em imagem, sem realidade carnal, dado que Deus não podia encarnar na matéria. Mais uma hipótese para a negação de Cristo pela Ordem, dentro do seu pensamento gnóstico iniciático.
Mas teriam sido os Templários cátaros?
Tudo visto e ponderado, parece que não. Sem dúvida que havia vários pontos de contacto: existiu um ritual de negação de Cristo, que nos primeiros tempos tinha um carácter iniciático e se destinava apenas ao círculo interno da Ordem; a doutrina deste “núcleo duro" tinha vários pontos de contacto com os cátaros, dada a sua envolvente gnóstica e, dada a implantação regional, haveria, obviamente, muitos laços familiares e de amizade entre Templários e Cátaros.
Por isso, aquando da pseudo-cruzada contra a “heresia”, em 1208, os Templários não só não se entusiasmaram, como receberam no seu seio vários refugiados cátaros (não nos esqueçamos de que, a partir de 1136, a Ordem podia receber excomungados, desde que arrependidos).
Esta entrada dos Cátaros, terá certamente influenciado os Templários, mas isso não faz deles hereges: os Cátaros, quando iam para a fogueira, cantavam e proclamavam orgulhosamente a sua fé. Nunca se viu nenhum Templário morrer afirmando outra doutrina que não o da Igreja Católica.
Um aspecto, porém, merece destaque, ao nível de contactos mais secretos entre o círculo interno do Templo e os Cátaros: a demanda do Graal.
[1] É o conceito de “pontifex”: o que faz ou guarda pontes, quer materiais, quer espirituais; o que está em contacto com o mundo visível e o invisível.
(2) Na foto, a expulsão dos cátaros de Carcassone
jp
3 comments:
Quando visitei Toulouse e Carcassone me perguntei de onde poderia vir esta religião cátara, eis que tenho a resposta.
Escrevi um post sobre Carcassone no "Jardin", em abril de 2008 chamado "A Citadela"(http://jardinephemere.blogspot.com/2008/04/citadela.html), mas sem entrar nestes fundamentos da religião que desconhecia.
Muito interessante saber esta ligação entre eles e os Templários.
Abraços e um bom domingo.
Os cátaros não são aqueles gajos que entram no "Nome da Rosa" e são queimados no fim ? Têm um papel muito jeitoso...
Maria Augusta: Eu vi esse seu post naaltura, Aliás, ando para ir à região há uns tempos, só que a oferta é complicada e cara.
Al: são um esboço, devidamente apopalhados pelo Eco e ainda mais no filme.
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