13.5.09

TEMPLÁRIOS REVISITADOS - BREVE ENQUADRAMENTO DA ORDEM

OS TEMPLÁRIOS E O ISLÃO
Os Templários foram acusados de se terem convertido ao Islão. Não parece ser uma acusação fundamentada.
O que, sem dúvida, é verdade é que eles tinham perante os seus inimigos uma atitude diferente, nem sempre compreendida.
Eram censurados por confraternizarem com o adversário, quando, no fundo, tinham comportamentos diplomáticos, que visavam a permanência na região.
A verdade é que eram eles que lá ficavam, enquanto as vagas de cruzados iam e vinham, inflamados por “desígnios de fé” e de destruição, muitas vezes sem estratégia, nem táctica, conduzidas por reis e príncipes que apenas desejavam afirmação pessoal.
Por outro lado, os Templários tinham interesse em entender a civilização muçulmana, assimilar a sua essência e, obviamente, sofreram a sua influência (científica, jurídica, astronómica, matemática… campos em que os árabes estavam bem mais avançados que os europeus).
Aliás, chegaram a ter ao seu serviço muitos auxiliares muçulmanos a que davam o nome de Turcopolos.
Compreensão, tolerância e respeito mútuo faziam parte da filosofia Templária. Mas isso não significa conversão, nem nunca os impediu de travar todos os combates, nalguns caso mesmo sabendo que não era possível sobreviver às loucuras dos “reis cruzados” como foi o caso das cruzadas de São Luís, que apressaram a queda dos reinos cristãos da Palestina.

A política da Ordem era realista: tinham compreendido que era preciso dividir para reinar e que não era possível combater em todas as frentes ao mesmo tempo. Aliás, as quinze praças-fortes que possuíam abrigavam uma importante população muçulmana. Tratá-la mal teria sido suicida. Logo, respeitavam os costumes locais e até a religião muçulmana. Por outro lado, aliavam-se a certos príncipes do Islão, para combater outros e desempenharam um papel de árbitros entre os reinos turcos da Síria e o califado fatímida do Cairo.
Eram estimados e, muitas vezes, serviam de garantes, a pedido dos muçulmanos, nos acordos estabelecidos com príncipes cristãos, como foi o caso de Saladino e de Ricardo Coração de Leão (embora este último não tivesse palavra, como se provou).
O essencial era impedir que todas as forças do Islão se unissem, porque então seria impossível enfrentá-las. Infelizmente, nem sempre tal foi possível, como aconteceu no tratado entre Saladino e Amaury I, violado por este último.
A partir daí, os Templários recusaram-se a ser garantes de tratados e passaram a executar uma política própria.
É nesta fase (1171) que Saladino acaba com o califado do Egipto e reunifica todo o Próximo Oriente sob a fé sunita (como já vimos na Parte I), coisa que os Templários tentavam evitar a todo o custo.

Interessantes são as relações com seita dos Assassinos, de que já falámos na primeira parte. Os “assassinos” estavam ligados à seita dos Ismaelitas (recusavam-se a acreditar na morte de Ismael). A sua implantação no Irão introduziu também alguns elementos das velhas crenças Zoroastrianas que aí tinham permanecido.
Já falámos da divisão entre Sunitas e Chiitas e das suas razões históricas. Importa aqui ressaltar que, enquanto o bloco sunita defendia que o Corão só permite uma interpretação literal e que a reflexão individual devia ser encerrada, os chiitas consideravam que o Corão comporta uma interpretação simbólica e alegórica, que o crente deve descobrir com a ajuda dum guia instruído, sendo a literalidade destinada aos “espíritos toscos”.
Para os Sunitas, o Islão será uma ordem social teocrática sem espiritualidade; para os Chiitas, uma religião espiritual sem relação com a ordem social.
Este foi o conflito que se travou nos quatro séculos seguintes à morte de Maomé. Os sunitas prevaleceram: o pensamento livre e a refexão individual passaram a heresia; incendiaram-se bibliotecas; sábios e místicos foram desterrados ou mortos.
O séc. XII marcou o Islão pela negativa. O seu declínio começa aqui. De tudo isto se vai aproveitar a seita dos “assassinos”.
jp

2 comments:

Maria Augusta said...

Dividir para melhor dominar...é um princípio que é usado até hoje.
Não sabia qual era a diferença entre sunitas e chiitas, nos quais se falou muito durante a Guerra do Iraque...Web é cultura, merci!

EXPRESSODALINHA said...

Maria Augusta: atenção que hoje em dia, a lógica teocrática também invadiu os chiitas, embora se mantenha a distinção governo-chefe religioso (vide Irão). Poderia explicar a evolução, mas era outro post e grande.