A EXTINÇÃO DA ORDEM
O destino da Ordem do Templo foi o de extinguir-se brutalmente quando parecia no cume da sua pujança. O que teria falhado?
Talvez a Ordem só se tenha extinto porque a sua chama interior desaparecera. Dois séculos depois da sua criação, julgar-se-ia ao abrigo de qualquer golpe.
Mas, a 13 de Outubro de 1307, ao amanhecer, vários milhares de cavaleiros foram presos em toda a França. O próprio Grão-Mestre, Jacques de Molay, acompanhado pela sua guarda pessoal de sessenta homens, foi detido sem resistência, na “residência oficial”, a Torre do Templo, em Paris, por Guilherme de Nogaret, chanceler de Filipe IV, “o Belo”.
Como foi possível que milhares de cavaleiros, escudeiros e sargentos, organizados, corajosos e treinados, se deixassem prender, praticamente sem reacção?
A facilidade com os Templários se deixaram apanhar é, sem dúvida, um dos maiores mistérios da Ordem.
Entre 14 e 20 de Setembro de 1307, foram enviadas missivas a todos os agentes reais em França, com ordem de prisão dos cavaleiros do Templo e confiscação dos seus bens. Nelas, Filipe, o Belo, invocava a heresia da Ordem, de que teria tido conhecimento, arvorava-se em defensor da fé católica e dava instruções concretas quanto aos procedimentos do interrogatório. Dava ainda a entender que actuava de pleno acordo com o papa, o que não era rigorosamente verdade (lembremo-nos de que a Ordem dependia exclusivamente do papa).
Quanto aos procedimentos, é de ressaltar que a orientação era a de que quem confessasse a heresia tinha a vida salva; a negação implicava tortura e até a morte. Não é de espantar que as confissões tenham sido numerosas.
Curiosamente, as relações financeiras entre Filipe e a Ordem pareciam ter corrido, até então, da melhor forma: o próprio rei ordenara a todos os seus contabilistas que enviassem as suas receitas para o tesouro do templo. Como explicar esta reviravolta?
A verdade é que Filipe ficara fortemente endividado depois da guerra na Flandres e, para além de recorrer aos expedientes habituais da quebra da moeda, tinha contraído uma dívida de cerca de quinhentas mil libras e de duzentos mil florins junto dos Templários.
Mais: após o regresso do Oriente, os Templários, agora "desempregados", poderiam representar um perigo para a autonomia do poder real. E era a partir de Paris que a Ordem era dirigida…
Cavaleiros ociosos[1]; uma Ordem com um poderio financeiro e fundiário impressionantes; isenta de impostos; não dependente de qualquer poder temporal… não iria ela comprar cada vez mais terras, construir um verdadeiro reino? Ou passar a ser uma força mercenária ao serviço do papa?
Depois da queda da Palestina, faria sentido manter três ordens militares (Templários, Hospitalários e Teutónicos)? Em 1274, no Concílio de Lyon, o papa Gregório X fizera já uma tentativa, não conseguida, de fusão entre Templários e Hospitalários. É que as duas ordens não gostavam uma da outra e os interesses nem sempre coincidiam… Talvez esta fusão pudesse, no entanto, ter salvo os Templários. Mas tal não é certo, porque, nessa eventualidade, Filipe tencionava indicar o seu filho para Grão-Mestre das duas ordens reunidas, para, depois, abdicar do trono em proveito daquele, atribuindo um carácter hereditário ao cargo de Grão-Mestre. Ou seja, a nova Ordem mais não seria do que um instrumento nas mãos do rei de França.
[1] Os cavaleiros aborreciam-se e procuravam no vinho o esquecimento para a inactividade, dando origem à expressão francesa “boire comme um Templier”.
O destino da Ordem do Templo foi o de extinguir-se brutalmente quando parecia no cume da sua pujança. O que teria falhado?
Talvez a Ordem só se tenha extinto porque a sua chama interior desaparecera. Dois séculos depois da sua criação, julgar-se-ia ao abrigo de qualquer golpe.
Mas, a 13 de Outubro de 1307, ao amanhecer, vários milhares de cavaleiros foram presos em toda a França. O próprio Grão-Mestre, Jacques de Molay, acompanhado pela sua guarda pessoal de sessenta homens, foi detido sem resistência, na “residência oficial”, a Torre do Templo, em Paris, por Guilherme de Nogaret, chanceler de Filipe IV, “o Belo”.
Como foi possível que milhares de cavaleiros, escudeiros e sargentos, organizados, corajosos e treinados, se deixassem prender, praticamente sem reacção?
A facilidade com os Templários se deixaram apanhar é, sem dúvida, um dos maiores mistérios da Ordem.
Entre 14 e 20 de Setembro de 1307, foram enviadas missivas a todos os agentes reais em França, com ordem de prisão dos cavaleiros do Templo e confiscação dos seus bens. Nelas, Filipe, o Belo, invocava a heresia da Ordem, de que teria tido conhecimento, arvorava-se em defensor da fé católica e dava instruções concretas quanto aos procedimentos do interrogatório. Dava ainda a entender que actuava de pleno acordo com o papa, o que não era rigorosamente verdade (lembremo-nos de que a Ordem dependia exclusivamente do papa).
Quanto aos procedimentos, é de ressaltar que a orientação era a de que quem confessasse a heresia tinha a vida salva; a negação implicava tortura e até a morte. Não é de espantar que as confissões tenham sido numerosas.
Curiosamente, as relações financeiras entre Filipe e a Ordem pareciam ter corrido, até então, da melhor forma: o próprio rei ordenara a todos os seus contabilistas que enviassem as suas receitas para o tesouro do templo. Como explicar esta reviravolta?
A verdade é que Filipe ficara fortemente endividado depois da guerra na Flandres e, para além de recorrer aos expedientes habituais da quebra da moeda, tinha contraído uma dívida de cerca de quinhentas mil libras e de duzentos mil florins junto dos Templários.
Mais: após o regresso do Oriente, os Templários, agora "desempregados", poderiam representar um perigo para a autonomia do poder real. E era a partir de Paris que a Ordem era dirigida…
Cavaleiros ociosos[1]; uma Ordem com um poderio financeiro e fundiário impressionantes; isenta de impostos; não dependente de qualquer poder temporal… não iria ela comprar cada vez mais terras, construir um verdadeiro reino? Ou passar a ser uma força mercenária ao serviço do papa?
Depois da queda da Palestina, faria sentido manter três ordens militares (Templários, Hospitalários e Teutónicos)? Em 1274, no Concílio de Lyon, o papa Gregório X fizera já uma tentativa, não conseguida, de fusão entre Templários e Hospitalários. É que as duas ordens não gostavam uma da outra e os interesses nem sempre coincidiam… Talvez esta fusão pudesse, no entanto, ter salvo os Templários. Mas tal não é certo, porque, nessa eventualidade, Filipe tencionava indicar o seu filho para Grão-Mestre das duas ordens reunidas, para, depois, abdicar do trono em proveito daquele, atribuindo um carácter hereditário ao cargo de Grão-Mestre. Ou seja, a nova Ordem mais não seria do que um instrumento nas mãos do rei de França.
[1] Os cavaleiros aborreciam-se e procuravam no vinho o esquecimento para a inactividade, dando origem à expressão francesa “boire comme um Templier”.
jp
2 comments:
Aqui na França se fala muito na maldição que eles lançaram sobre Filipe, o Belo, quando estavam na fogueira...parece que ela realmente se concretizou para ele e seus herdeiros.
É um facto. Lá chegaremos.
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