3.7.09

TEMPLÁRIOS REVISITADOS - BREVE ENQUADRAMENTO DA ORDEM

ANTES DA NACIONALIDADE (CONT.)
Os Templários chegam a Portugal muito cedo.
Como já vimos, um dos primeiros nove cavaleiros a chegar a Jerusalém seria de origem portuguesa; o seu nome era conde de Gondemar (segundo Michel Lamy), ou Arnaldo Rocha (segundo Alexandre Ferreira e António Quadros). Vários outros cavaleiros fundadores da Ordem eram da Borgonha. A vinda do borgonhês Conde D. Henrique pode explicar a aproximação e o desenvolvimento precoce da Ordem em Portugal, relativamente a outros reinos europeus.
Os Templários chegaram a Portugal, o mais tardar, em 1125 (três anos antes da sua oficialização canónica). Logo no ano seguinte, recebem a primeira doação, provavelmente a vila de Fonte Arcada, perto de Penafiel, das mãos de D. Teresa; em 1128, recebem o Castelo de Soure, a sul de Coimbra, e uma vasta área anexa, onde, até à conquista de Santarém (1147), se supõe que tenham fixado a sua sede.
Os primeiros mestres provinciais (procuradores), responsáveis pela Ordem em Portugal, foram de origem francesa (eventualmente, quatro ou seis).
Parece inequívoco que o Infante D. Afonso era, pelo menos, confrade da Ordem. Na confirmação da doação de Soure, datada de 1129, nove meses após a batalha de S. Mamede, o Infante escreve: “…esta doacção faço… pelo amor que cordial vos tenho e porque em a vossa Irmandade e em todas as obras sou Irmão…”
Mais: no foral de Guimarães, assinado pelo Infante em 1128, está aposto o selo orbicular, exactamente com as proporções usadas pelos Templários em Portugal.
Por outro lado, a Ordem do Templo reconheceu imediatamente o Infante como governador do Condado, o que leva a crer numa aliança entre este e os estrategas da ordem. E, seguramente, não é por acaso que, em 1148, quando da embaixada a Roma, para defender junto do papa o reconhecimento do reino de Portugal, D. João Peculiar, arcebispo de Braga, vai acompanhado por um representante do Mosteiro de Santa Cruz e por um Templário.
Sabendo-se como eram estrictas a organização e hierarquização da Ordem, esta decisão só pode ter por trás uma resolução consciente, assente na harmonia entre o Ideal templário e o projecto da nobreza portuguesa, liderado por D. Afonso.
Os Templários começam a combater ao lado do Infante, pelo menos a partir de 1136 e, em 1139, participam na batalha de Ourique, na qual D. Afonso Henriques é aclamado rex, na boa tradição guerreira indo-europeia, o “primus inter pares” (e não “rei pela graça de Deus”, ideia muito posterior).
Logo em 1140, o rei português vence o rei de Castela e Leão (Afonso VII, seu primo), em Arcos de Valdevez, abrindo caminho para, em 1143, por meio do Tratado de Zamora, ser reconhecido como rei de Portugal, na presença de um legado do papa Inocêncio II. O reino de Portugal passa a ser vassalo da Santa Sé, ficando a pagar como tributo quatro onças de ouro por ano.
No entanto, é discutível que tenha sido esta a data oficial da independência do reino, pelo menos em termos de “direito internacional”. De facto, apesar de Zamora, o papa, em 1144, apelida D. Afonso de Dux e não de Rex. Só após a embaixada de D. João Peculiar a Roma, seguida de mais três décadas de trabalho diplomático, a Santa Sé reconhece “de jure” o reino de Portugal (1179). Não é de excluir o papel relevante dos Templários neste processo, dado o enorme prestígio de que gozavam em Roma, nessa altura. São Bernardo terá igualmente desempenhado um papel importante no reconhecimento papal.
jp

4 comments:

Maria Augusta said...

Incrível como nesta época um país para existir dependia da aprovação do Vaticano, e felizmente que Portugal tinha o apoio dos Templários para obtê-lo...

Al Kantara said...

O conde de Gondemar não seria o Valentim ?...

Margarida Piloto Garcia said...

Valeu a pena ler sobre esta Ordem.Sempre foi uma constante a sua importância e o jogo entre o real e tanto que ofereceu ao imaginário.

EXPRESSO said...

Maria Augusta: a Igreja tinha "civilizado" os bárbaros e mantinha os sonhos imperiais de Roma.
Al: pessoalmente julgo que esta localidade de Gondemar fica na Galiza, perto de Santiago de Compostela.
Margarida: a Ordem esteve em todas...