20.7.09

TEMPLÁRIOS REVISITADOS - BREVE ENQUADRAMENTO DA ORDEM

PRESTES JOÃO DAS ÍNDIAS[1]
O mito vem do tempo da heresia nestoriana (séc. IV). Nestorius ter-se-ia refugiado para lá da Pérsia, na Arábia, ou na Etiópia… o que, naquele tempo, se designava genericamente “as Índias”.
O aparecimento do Islão e, mais tarde, dos turcos, teria cortado os contactos com um reino cristão, perdido algures nas “Índias”: o reino de Prestes João, “o Rei do Mundo”, que governava no “Centro do Mundo”.
A demanda do “Rei do Mundo” é, simultaneamente, objectiva e espiritual. Uma busca desesperada do Graal, que representava o saber inciático e que se afastava do Ocidente. Encontrar o reino do Prestes João significava restabelecer o contacto com o Templo eterno e salvar o Ocidente da catástrofe da “destruição do Templo”.

Os Templários portugueses participaram nessa busca de uma forma particularmente activa, no quadro dos Descobrimentos.
O Infante D. Henrique subscreveu a hipótese africana, nomeadamente a da Etiópia. Nesse sentido, foram enviados vários “pesquisadores”, com o intuito específico de recolha de informações: primeiro, Antão Gonçalves e, mais tarde, Pero da Covilhã, o qual penetra na Abissínia e confirma a existência de um reino cristão, governado por um Negus, rei da Etiópia[2].
Só no tempo de D. Manuel I é preparada uma embaixada relevante, tendo como destino a Etiópia (1521). É encontrado um culto de base cristã, eivado de superstições e heresias condenadas pela Igreja europeia. Por outro lado, longe de poder servir de apoio aos vice-reis da Índia, os abissínios tiveram mesmo de ser ajudados pelos portugueses, contra uma tentativa de invasão dos somalis.
Os portugueses, os primeiros a perseguir essa ilusão, foram igualmente os primeiros a desiludir-se: aquele não era o reino do Prestes João.
Mas essa ilusão foi, sem dúvida, um dos fundamentos (senão “o” fundamento) místico-iniciático dos Descobrimentos: o Oceano é dissolução, naufrágio e morte, mas também passagem iniciática, caminho de ressurreição[3].
E não seriam os portugueses predestinados para aquela busca? O nome Lusitânia lembra a palavra luz, que, na tradição hebraica, significa “nó da imortalidade”, ponto situado na base da coluna vertebral, no “sacrum”. Sagres (o “Promontorium Sacrum” dos romanos) foi o lugar escolhido por Henrique para a base das operações…
Luz era também o nome do local onde Jacob sonhou com uma escada pela qual subiam e desciam os Anjos do Senhor, local esse que recebeu depois o nome de Bethlem. Foi de Belém, nas margens do Tejo, que partiram as caravelas…
[1] Intervenção de Lima de Freitas, em 1983, nos “Encontros Internacionais de Tomar”.
[2] Esta tese tinha a seu favor, entre outras razões, a lenda da rainha do Sabá que, tendo visitado Salomão, recebera a iniciação na gnose e concebera dele um filho; seria esta a origem da dinastia dos imperadores da Etiópia.
[3] Uma outra lenda, baseada no “Livro de José de Arimateia”, refere que Salomão terá construído um barco à “prova de todos os mares” (uma espécie de Arca de Noé), que pudesse aguentar dentro de água mais de mil anos, sem apodrecer. Este barco era o depositário do Graal… Assim, a busca era marítima
Ao fim de cerca de 100 episódios termina hoje este Breve Enquadramento dos Templários. Para quem leu, espero que tenha gostado; para quem não acompanhou, um alívio...
jp

2 comments:

Maria Augusta said...

Há algumas semanas vi na televisão francesa um documentário sobre a procura do reino encantado do "Padre João" (como eles o chamavam), na Ásia e na África, sem sucesso.
E quem diria que a motivação para os descobrimentos foi a busca do Graal...isto me consola um pouco, sempre achei que o motor para tudo que aconteceu na História foi o poder e o dinheiro.
Interessante e bonita também esta simbologia em torno do nome "Lusitânia".
Jorge, imagino quanta pesquisa você fez para escrever esta série de mais de 100 posts...muito obrigada por compartilhá-la conosco, foi muito enriquecedor.

Jorge Pinheiro said...

O prazer foi meu. De facto estão aqui 6/7 meses de pesquisa e dezenas de livros consultados. Se precisar de bibliografia é só dizer.