
A "ética-ética" será uma ciência filosófica que se estuda em circuito fechado, sem qualquer interesse prático. Algo que se discute entre velhos gregos e alguns troianos infiltrados, no circuito bafiento do academismo. Serve para obter diplomas e deixar crescer a barba.
Já a "ética-jurídica" não é uma ciência. É um processo e, normalmente, demorado. Um processo cheio de armadilhas, requerimentos, providências cautelares e até alguma repristinação, aqui e ali. Um processo de desfecho totalmente incerto. Tudo se passa no silêncio obscuro dos gabinetes judiciais, numa cadência ritual que nada tem a ver com a vida real. É, assim, uma coisa autónoma. A vida e a política, em especial, não podem esperar, nem estar dependentes desta "ética-jurídica". Mais, não ter "ética-jurídica" não significa que não se tenha "ética-ética" ou "ética-política". Significa, apenas, que o processo judicial não correu bem, sabe-se lá porquê. Ele há tantas minudências judiciais!
Finalmente, temos a "ética-política". O princípio é este: só se é reponsabilizado politicamente pelo voto. Portanto, mesmo que eu seja um professor de ética e um cidadão exemplar sem qualquer processo judicial, politicamente isso não interessa nada. Posso perfeita e legitimamente perder as eleições para um bandido profissional, desde que esse bandido seja político e o povo lhe dê mais votos. O povo é que define a ética de um candidato. E, repare-se no detalhe, o conceito só é definido "a posteriori". Só depois das eleições sabemos se fulano é ético ou não, em função da votação. Algo que é, portanto, exógeno ao candidato. É o povo quem mais ordena, o que está de acordo com os critérios mais "abrilistas" e arrojados do PREC.
Esta independência de conceitos beneficia, em muito, a vida democrática e bem andou o senhor deputado Rangel ao enunciá-los com esta clareza. A abundância de arguidos e a demora dos tribunais não se compadece com a plena vivência e dinamismo democráticos. Podemos agora estar seguros que há sempre uma ética, até porque as três espécies criadas pelo douto deputado não esgotam a matéria. Cada um pode criar novas categorias, as que quiser, se estas forem insuficientes. Por outro lado, os tribunais que sempre foram independentes, inamovíveis, inenarráveis, inantigíveis, inalienáveis e inconcebíveis, vêem agora reforçados as suas incapacidades éticas, deixando de estar pressionados pelo "timing" da decisão. Decidam quando quiserem. Eticamente é politicamente irrelevante!
jp
7 comments:
Isto me lembra o livro do George Orwell, "A Revolução dos Bichos", que dizia : "Todos os animais são iguais...mas alguns são mais iguais que os outros". Sempre se dá um jeitinho, um entorse à uma definição para adequá-la às circunstâncias que se deseja impor. Declinar o conceito da ética pode se tornar muito perigoso!
Abraços et me voilà de retour!
Eticamente muito bem dito!
Muita(s) ética(s) mata a Etica...
Ética do incorrectamente social!!!
rsssss
Cada um vê a ética conforme quer e decide e assim,nós é que nos ralamos...abração,chica
Em matéria de ética o padrão é o NOSSO CONSELHO DE ÉTICA DO SENADO DA REPÚBLICA no Brasil. O resto esta valendo!
NÃO POSSO DEIXAR DE SAUDAR O REGRESSO DA MARIA AUGUSTA E A VISITA DA MINHA AMIGA HELENA ONETO, AMBAS RESIDENTES EM FRANÇA.
Olá Jorge, Esse assunto realmente me interessa, pois se fala muito de ética e a pratica-se muito pouco ou quando não a usam como marketing, virou algo a ser notado e reverenciado, como uma qualidade, hoje ser ético e ser honesto é ser E.T. e merece premio, tenha a santa paciência, não é mais uma coisa de gente comum.
Essas classificações já são aqui mal ou melhor bem praticadas há muito tempo, desfiguraram alguma coisa que no tempo do me avó era chamado de honrar as próprias calças, nem se sabia que nome tinha, mas a viviam de fato, essa coisa que ficou fora de moda, virou um fantasma, ter palavra e ser ético é coisa de histórias de heróis, fez-se tanta confusão com essa palavra que nem os corruptos respeitam a sua ética sem ética...transformam as ações e reescrevem o que nunca souberam o que verdadeiramente significa
Infelizmente. Ética se aprende desde de cedo, se aprende em casa ou em Nenhures talvez? Muita confusão, muitos equivocos, ser ético virou sinônimo de ser patético (pqp) olha isso?
beijos,
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