20.10.09

MONSANTO - ALDEIA MAIS PORTUGUESA DE PORTUGAL

Num polémico concurso lançado pelo regime salazarista nos anos 40, Monsanto foi eleita a "Aldeia Mais Portuguesa de Portugal". Ganhou um galo de prata, da autoria de Abel Pereira da Silva, cuja réplica está na Torre do Relógio (ou de Lucano). Com uma inclinação média de 15% só os lusitanos, a quem os romanos davam o interessante nome de pernix lusis ("ágeis lusitanos", daí derivando "perna" que não existe noutras línguas romanizadas), ali conseguem andar como cabritos. Os turistas arrastam-se com garrafinhas de água, bufando para cima e para baixo, esperando que o almoço não seja de granito. As ruas estreitas e encravadas entre penedios, confundem as casas com as rochas na textura mimética do feldspato. Logo em baixo o barrocal. Ao longe a charneca a perder de vista, enquadrada pela monumental Serra da Estrela. Paisagem brutal que nos tira a respiração e também o fôlego.
Interessante como neste ex-libris da Beira e do turismo do centro do país, os armários da EDP (Electicidade de Portugal) e os repartidores de telecomunicações se destacam no granito e quase nos dão choques só de olhar para eles. Interessante como para tirar um fotografia decente se têm de fazer verdadeiras acrobacias para não registar algum cabo pendurado. Eles espalham-se por todo lado tecendo teias eléctricas que rebentam com qualquer enquadramento. Fantásticas as portas e janelas de alumínio que substituíram a madeira e nos gelam o coração. Curiosa a forma como o lixo se acumula, tentando competir com a grandiosidade dos penedos e a poesia das ruas. Aldeia mais portuguesa de Portugal... sem dúvida!

10 comments:

Anonymous said...

pelo menos têm o lixo todo concentradinho ehehehe

Anonymous said...

Havia de ser a Maitê Proença a postar este post... mais um pedido de desculpas...

João Menéres said...

Fiel retrato do resultado de decisões tomadas por tecnocratas, mais insensíveis que a mais fria pedra.

Grande abraço.

EXPRESSO said...

Anónimo: Há uma ligeira diferença. Eu tenho razão e ela não. Há outra ainda. O meu intuito é didáctico, o dela é totalmente parvo. Há, finamente, ainda outra. Eu não preciso de pedir desculpas porque não sou figura pública e não vivo do mercado que tento inferiorizar.
Ellen: Pois isso é verdade. O lixo estava todo muito arrumadinho.

Li Ferreira Nhan said...

O lixo não comprometeu em nada, faz parte, existe vida nas aldeias.
É preciso apreciar e abstrair muito do que se vê.
Nas outras postagens (muito bonitas!) vc teve o cuidado de não mostrar as "fantásticas portas e janelas de alumínio que substituíram a madeira e nos gelam o coração" essas sim são de matar (em qualquer lugar do mundo)!
Portugal tem aldeias de uma simplicidade primorosa. E sempre nos acolhe tão bem.
A Aldeia parece linda e merece todo o sacrifício pedra acima (um bom exercício para os glúteos).
:)
É sempre muito gratificante aprender com suas postagens!
...
pq foi polêmico o concurso dos anos 40?

Anonymous said...

Expresso: Há enormes diferenças. Mas não se trata de ter ou não razão. Trata-se sim de uma questão de gosto e o teu post tem-no muito mais do que o video dela. A questão não é essa; o que se levantou foi a ideia da legitimidade do "trabalho" dela. O teu é didáctico e sério, óptimo!
O dela é de um mau gosto atroz e no gozo, péssimo! Mas ambos podem fazê-lo. E ela tem que pedir desculpas de quê? Do seu próprio mau gosto e amadorismo? Gozou com os portugueses? E depois, não pode? Cadê a liberdade? Só para terminar; ela não "cospe numa fonte", ela simula uma saída de água. E sobre o assunto mais não direi. Abraço e fica bem.

EXPRESSO said...

OK. Percebido. Abraço também.

EXPRESSO said...

Li: obrigado pela apreciação. O polémico, ao que sei, foi, desde logo o próprio concurso. Muitas aldeias se achavam as mais portuguesas. O concurso acabou por ser exclusivo em vez de inclusivo. Depois foi a democraticidade da escolha (não esquecer que SALAZAR era beirão). Finalmente, na época, Monsanto estava uma ruína comparada com outras terras. Isto, que acabou por ser bom em termos de reabilitação, não faria muito sentido face ao património de então.

Li Ferreira Nhan said...

Jorge,
muito obrigada!

Anonymous said...

A Maitê que não leia post e comentários! srsr